“A
humanidade erra por ter a sua consciência submersa na ignorância” (Textos Hindus)
Será que consciência tem ferrão?
Para sabermos, temos primeiro, que responder: o que é
ferrão?
Ferrão é sinônimo de aguilhão. Segundo o dicionário é
uma excrescência móbil do abdome de alguns insetos. É o dardo (pequena lança) dos
insetos, ou seja, seu órgão de defesa. Afinal, ferrão é uma arma de proteção!
Quem não tem medo do ferrão do marimbondo? Mas não são
apenas insetos que têm ferrão; algumas espécies de animais também têm. É o caso
do peixe mandi, de água doce, assim chamado por emitir um ruído parecido ao
choro.
Falando nisso, lembrei-me de um fato da minha
juventude. Estávamos numa canoa, pescando no rio Itararé. A pescaria estava boa,
muitos lambaris, tambiús, e alguns mandis. Os pescados eram jogados ali mesmo
dentro da canoa. Naquela época a gente não se preocupava em levar um samburá ou
saco de nylon para peixes. O costume era usar uma forquilha de varas para
recolher os peixes da canoa ao final da pescaria.
Embora alertados sobre o perigo do ferrão dos mandis,
que deveriam ser quebrados antes de atirados à canoa, essa recomendação nem
sempre era seguida. E foi, por isso, que Moacir – que estava descalço – pisou
com todo o seu peso sobre o ferrão de um mandi. Depois de muitos urros de dor,
conseguimos tirar o ferrão do mandi de seu pé. Mas ele não conseguia andar.
Então recolhemos os peixes e as tralhas de pesca, ancoramos a canoa e amparamos
o Moacir até a farmácia do Bairro de Santa Cruz, que era o lugarejo mais
próximo. Depois de atendê-lo o farmacêutico diagnosticou:
− O caso dele é grave. O pé está muito inchado e vai
infeccionar.
− O que devemos fazer?
− Isso requer atendimento médico!
Fomos até a Santa Casa de Itararé; e depois do
atendimento médico não ouvimos mais as lamentações de dor do Moacir. Isso serviu
de lição para todos nós. Quebrar o ferrão de mandi passou a ser um dever nas
nossas pescarias!
Aprendemos que uma ferroada dói muito e, em alguns
casos pode até matar. Mas será que com a ferroada da consciência também é
assim?
O dever íntimo de toda criatura humana depende de seu livre-arbítrio: o ferrão da consciência,
a sua arma de defesa, o guardião do dever moral, que eleva o ser humano.
Toda pessoa tem dois caminhos a seguir: o do Bem e o
do Mal. Cabe a ela escolher. O livre-arbítrio
é então o ferrão da consciência, porque vai nos advertir e sustentar a nossa
escolha.
Segundo
Lázaro, no Evangelho Segundo o Espiritismo,
“O dever começa precisamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a
tranquilidade do vosso próximo, e termina no limite que não desejaríeis ver
transposto em relação a vós mesmos”. Por isso, todos os deveres que temos para com o
nosso próximo Jesus sintetizou ao ensinar que: "Tudo o que quereis que os homens vos
façam, fazei-o vós a eles [...]” (Mateus 7,12).
Todavia, se escolheu o Mal, está então em
desobediência às leis de Deus. E o ferrão da consciência, em obediência a lei
de ação e reação, vai lhe provocar dor, sofrimento... Pois essa experiência
deve calar fundo na alma para não mais se repetir. Deus quer, pela experiência
de cada um, todos os seus filhos instruídos!
Antes de cometer um erro percebemos por intuição que
algo se agita dentro de nós para evitar o pior. E, se decidirmos pelo caminho
do mal, logo a ferroada dói na consciência! Dá depressão, transtornos, remorso
e provoca doenças, que às vezes levam até a morte. O perdão ajuda nessa
situação. Porém com a recomendação do Mestre: “Eis que ficaste são; já não
peques, para não te acontecer coisa pior" (João 5,14).
O dever é o mais belo prêmio da razão, pois dá vigor
ao desenvolvimento do Espírito, o qual deve se aperfeiçoar para refletir as
virtudes de Deus, que estão dentro de nós. "Assim,
brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e
glorifiquem vosso Pai que está nos céus" (Mateus 5,16).
Se você estiver em paz nada vai lhe incomodar; e pode
ter certeza que com o tempo esse ferrão da consciência vai acabar se ‘enclausurando’!
É só cumprir o dever de praticar o Bem sempre!
Quem nunca
foi ferroado pela consciência que atire a primeira pedra!
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