“Gentileza gera gentileza”. (Profeta Gentileza).
A confraternização entre os povos aqui no Brasil,
nestes dias de junho, proporcionada pela Copa do Mundo de 2014, faz a gente
pensar no Profeta Gentileza do Rio de Janeiro.
Esse Profeta nasceu em Cafelândia-SP com o nome de
José Datrino e faleceu em 1966, aos 79 anos de idade.
Em 1961 ele acreditou na idéia de um mundo regido por
gestos nobres, de gentileza, amabilidade... Abandonou então a família e a
profissão e mudou-se para Niterói a fim de consolar os parentes das vítimas de
um trágico incêndio ocorrido em 17 de dezembro de 1961 no Gran Circus
Norte-Américano. Nesse incêndio morreram mais de 500 pessoas. Começou ali,
então, muitas décadas de sua peregrinação.
Tornou-se um conhecido andarilho. Era visto pelas ruas
de veste branca, cabelos longos, barbas brancas, cajado na mão, divulgando o
sentido das palavras: “Agradecido e
Gentileza”. No início chegou a ser conhecido como “José Agradecido”, mas, posteriormente, devido sua obra em cartazes
sobre o valor da gentileza, passou a ser identificado como “Profeta Gentileza”.
Suas profecias para um mundo melhor eram compostas de
palavras de amor, que chamavam a atenção também pela beleza gráfica das letras.
E isso fez do Profeta Gentileza uma
pessoa rara, única nesse gênero no mundo, uma autêntica fênix carioca.
Divulgava que os pequenos gestos, tantas vezes
considerados insignificantes, têm poder e podem acarretar conseqüências. Quando
é um gesto infeliz, a conseqüência é grave. Mas, quando é bom, gera felicidade.
Principalmente se o gesto fala da fraternidade doce e singela de Jesus.
O cultivo da gentileza, do bom humor, da cortesia pode
até salvar a vida. É o que nos afirma a história de Ytta Halberstam e Judith
Leventhal, em. Pequenos Milagres, Rio de Janeiro, Sextante, 1998.
De acordo com essa narrativa, Samuel era um rabino
que, na década de 1930, vivia numa aldeia polonesa. Gostava de dar longas
caminhadas pelo campo. Era conhecido pela sua gentileza, pela forma com que a
todos se dirigia.
As relações entre cristãos e judeus não eram muito
boas, naquela aldeia. Mesmo assim, toda vez que o rabino passava pelo camponês
Sr. Müeller o cumprimentava com um sonoro: bom dia!
Naturalmente que não havia resposta. O lavrador lhe
virava as costas.
O rabino não desistia. Todos os dias ele passava e
cumprimentava o Sr. Müeller. Finalmente, depois de muito tempo, o lavrador
decidiu corresponder ao cumprimento. Primeiro com um leve toque no chapéu.
Depois, acrescentou um sorriso. Mais tarde, o Sr. Müeller gritava de volta: bom
dia, rabino!
Os anos se passaram. Chegaram os nazistas, e toda a
família do rabino foi aprisionada e levada a um campo de concentração. E o
rabino foi sendo transferido de um campo para outro até chegar ao de Auschwitz.
Desembarcando do trem, ele entrou em uma enorme fila
para seleção.
Enquanto caminhava ao ritmo da fila, percebeu que lá
na frente estava o comandante do campo. Era ele que indicava com um bastão para
onde o prisioneiro deveria ir: para a esquerda ou para a direita.
A esquerda queria dizer morte imediata. A direita
garantia algum tempo de sobrevivência.
O coração começou a palpitar. A fila avançava e ele
pensava: esquerda ou direita? Morrerei ou viverei?
Que tipo de homem – pensou –, seria aquele comandante que
assim decidia a vida e a morte de outros tantos homens?
Quando estava apenas a uma pessoa de distância do
oficial, afastou o medo e olhou com curiosidade para o rosto do comandante.
Naquele momento, o homem se voltou e os olhos de ambos se encontraram.
O rabino se aproximou. Era a sua vez. Olhou fixamente
para os olhos que o fitavam e disse baixinho: bom dia, Sr. Müeller. Os olhos do
comandante tremeram por um segundo. A seguir respondeu: bom dia, rabino.
Estendeu o bastão para frente. Apontou para a direita
e gritou: passe.
E o rabino passou para a direita, para a vida.
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