“Quem sabe faz a hora não
espera acontecer” (Geraldo Vandré)
Dia 29 de junho de 2014. Dia de São Pedro e São Paulo.
Chegando de uma convenção partidária, onde compareci como delegado para
escolher os candidatos ao governo de São Paulo, eu fui surpreendido por um
amigo, que sabendo do motivo da minha viagem, perguntou-me de chofre:
− Ué, não abandonou a política?
Ia me explicar, mas ele não me deu a menor chance e
continuou:
− Você já está aposentado. Política não dá camisa a
ninguém! Política não serve pra você. Política é muita sujeira. Está cheia de
corruptos e de interesseiros. Os políticos só conhecem a lei do Gerson de “levar vantagem em tudo!”.
− Não é bem assim... – quis retrucar.
Mas o amigo não me deixou continuar. Alegou estar com
pressa e se despediu repetindo uma máxima de Jesus “Daí a César o que é de César...”.
Eu fiquei pensativo. Lembrei-me de Bertold Brecht
afirmando que “o pior analfabeto é o
analfabeto político”. “Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce
a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista, pilantra, o corrupto...”.
Imaginei Jesus nos dias de hoje, indignado, empunhando
um chicote e expulsando os vendilhões: “raça
de víboras; covil de ladrões”.
Recordei o ensinamento de Jesus “Daí a César o que é de César e a
Deus o que é de Deus”, que no meu entendimento é uma alegoria sobre o
Bem e o Mal. E saí contente, feliz pelo meu compromisso com a vida e por entender
que a participação política consciente é uma espécie de caridade.
Mesmo não sendo mais candidato a cargos eletivos, sei
da importância que tem a política para um mundo melhor.
Hoje – bem diferente da época autoritária do império
romano – vivemos numa democracia e temos o dever de escolher os melhores
representantes da sociedade para gerir as coisas públicas.
Considero a política como uma forma de zelo pelos
interesses gerais da população, acima de qualquer interesse individual. Uma
forma de luta constante pela justiça e pelo bem comum.
Se eu viver distante dos problemas do mundo e não
defender os fracos e injustiçados, de nada vale meu discurso de cristão. E não
posso ser omisso, pois, a justiça divina leva em conta não apenas o Bem que a
gente faz, mas também o Bem que a gente deixou de fazer.
Pensando então na opção política do cristão,
lembrei-me de Dom Hélder Câmara, e do seguinte texto que escreveu parafraseando
o capítulo 13 da Primeira Epistola de São Paulo aos Coríntios, que trata sobre
a Excelência da Caridade.
CARTA
DE SÃO PAULO AOS CRISTÃOS DE HOJE
Se eu aprender inglês, espanhol, alemão e chinês e dezenas de outros
idiomas, mas não souber me comunicar como pessoa, de nada valem minhas palavras.
Se eu
concluir um curso superior, andar de
anel no dedo, freqüentar cursos e mais cursos de atualização, mas viver
distante dos problemas do povo, minha
cultura não passa de inútil erudição.
Se eu morar
no Nordeste, mas desconhecer os
problemas e sofrimentos de minha região e fugir para férias no Sul, até na
América ou Europa, e nada fizer pela promoção do homem, não sou cristão.
Se eu
possuísse a melhor casa de minha rua,
a roupa mais avançada do momento e o sapato da moda, e não me lembrasse de que
sou responsável por aqueles que moram na minha cidade e andam de pés no chão e
se cobrem de molambo, sou apenas um
manequim colorido.
Se eu passar
os fins de semana em festas e
programas, sem ver a fome, o desemprego, o analfabetismo e a doença, sem
escutar o grito abafado do povo que se arrasta a margem da história, não sirvo para nada.
O cristão
não foge dos desafios de sua época. Não
fica de braços cruzados, de boca fechada, de cabeça vazia; não tolera a
injustiça nem as desigualdades gritantes de nosso mundo; luta pela verdade e pela justiça, com as armas do amor.
O cristão
não desanima nem se desespera diante
das derrotas e dificuldades, porque sabe que a única coisa que vai sobrar de
tudo isso, é o AMOR.
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