Aquecendo a Vida

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sexta-feira, 11 de julho de 2014

A OPÇÃO POLÍTICA DO CRISTÃO

“Quem sabe faz a hora não espera acontecer” (Geraldo Vandré)



Dia 29 de junho de 2014. Dia de São Pedro e São Paulo. Chegando de uma convenção partidária, onde compareci como delegado para escolher os candidatos ao governo de São Paulo, eu fui surpreendido por um amigo, que sabendo do motivo da minha viagem, perguntou-me de chofre:
− Ué, não abandonou a política?
Ia me explicar, mas ele não me deu a menor chance e continuou:
− Você já está aposentado. Política não dá camisa a ninguém! Política não serve pra você. Política é muita sujeira. Está cheia de corruptos e de interesseiros. Os políticos só conhecem a lei do Gerson de “levar vantagem em tudo!”.
− Não é bem assim... – quis retrucar.
Mas o amigo não me deixou continuar. Alegou estar com pressa e se despediu repetindo uma máxima de Jesus “Daí a César o que é de César...”.
Eu fiquei pensativo. Lembrei-me de Bertold Brecht afirmando que “o pior analfabeto é o analfabeto político”. “Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, o corrupto...”.
Imaginei Jesus nos dias de hoje, indignado, empunhando um chicote e expulsando os vendilhões: “raça de víboras; covil de ladrões”
Recordei o ensinamento de Jesus “Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, que no meu entendimento é uma alegoria sobre o Bem e o Mal. E saí contente, feliz pelo meu compromisso com a vida e por entender que a participação política consciente é uma espécie de caridade.
Mesmo não sendo mais candidato a cargos eletivos, sei da importância que tem a política para um mundo melhor.
Hoje – bem diferente da época autoritária do império romano – vivemos numa democracia e temos o dever de escolher os melhores representantes da sociedade para gerir as coisas públicas.
Considero a política como uma forma de zelo pelos interesses gerais da população, acima de qualquer interesse individual. Uma forma de luta constante pela justiça e pelo bem comum.
Se eu viver distante dos problemas do mundo e não defender os fracos e injustiçados, de nada vale meu discurso de cristão. E não posso ser omisso, pois, a justiça divina leva em conta não apenas o Bem que a gente faz, mas também o Bem que a gente deixou de fazer.
Pensando então na opção política do cristão, lembrei-me de Dom Hélder Câmara, e do seguinte texto que escreveu parafraseando o capítulo 13 da Primeira Epistola de São Paulo aos Coríntios, que trata sobre a Excelência da Caridade.

CARTA DE SÃO PAULO AOS CRISTÃOS DE HOJE

 Se eu aprender inglês, espanhol, alemão e chinês e dezenas de outros idiomas, mas não souber me comunicar como pessoa, de nada valem minhas palavras.
Se eu concluir um curso superior, andar de anel no dedo, freqüentar cursos e mais cursos de atualização, mas viver distante dos problemas do povo, minha cultura não passa de inútil erudição.
Se eu morar no Nordeste, mas desconhecer os problemas e sofrimentos de minha região e fugir para férias no Sul, até na América ou Europa, e nada fizer pela promoção do homem, não sou cristão.
Se eu possuísse a melhor casa de minha rua, a roupa mais avançada do momento e o sapato da moda, e não me lembrasse de que sou responsável por aqueles que moram na minha cidade e andam de pés no chão e se cobrem de molambo, sou apenas um manequim colorido.
Se eu passar os fins de semana em festas e programas, sem ver a fome, o desemprego, o analfabetismo e a doença, sem escutar o grito abafado do povo que se arrasta a margem da história, não sirvo para nada.
O cristão não foge dos desafios de sua época. Não fica de braços cruzados, de boca fechada, de cabeça vazia; não tolera a injustiça nem as desigualdades gritantes de nosso mundo; luta pela verdade e pela justiça, com as armas do amor.

O cristão não desanima nem se desespera diante das derrotas e dificuldades, porque sabe que a única coisa que vai sobrar de tudo isso, é o AMOR.

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