Aquecendo a Vida

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sábado, 30 de novembro de 2024

É PIRUÁ OU PIPOCA!

 

“Eu vim lançar fogo à Terra; e o que mais desejo senão que ele se acenda?” (Jesus).


Será que Jesus, a personificação da bondade, teria dito que veio lançar fogo à Terra? E mais ainda, que tinha pressa que esse fogo se acendesse? – de acordo com Lucas 12,49.

Será que Ele teria dito também: “Julgais que vim trazer paz à terra? Não, digo-vos, mas separação” (Lucas 12,51).

Estas palavras escritas por Lucas, assim como grande parte do capítulo 12 de seu evangelho, não estariam em contradição com os ensinamentos de Jesus?... Não seriam blasfêmias?...

Não, certamente que não! Não há blasfêmia nem contradição, mas a mais alta sabedoria, pois Jesus não poderia contradizer-se. E sua missão era pacífica. Apenas a forma de dizer causa estranheza, por não expressar exatamente o seu pensamento.

Na interpretação dos textos sagrados temos, além da leitura literal, ainda a interpretação alegórica (insinuação), dos ensinamentos.    

Jesus sabia que seus ensinamentos iriam atear fogo à Terra, pois iriam modificar a maneira de pensar das pessoas. Pois toda ideia nova encontra resistência, oposição, e nenhuma há que se implante sem lutas!...

Jesus falava sobre a necessidade de transformação interior das pessoas. E sabemos que esse processo de mudanças se dá pelo AMOR ou pela DOR. E no caso de ocorrer pela DOR, a mudança se dá pelo fogo do arrependimento, do remorso, do peso de consciência, do sofrimento físico, provocado pelos embates dentro da sociedade e, principalmente, na interação familiar.

O fogo do cristianismo explode em nós uma nova pessoa, totalmente diferente, capaz de servir, amar e perdoar.

É o nosso Despertar de Consciência! O qual se dá pela renovação do nosso Espírito Imortal.

“A Pipoca” – texto de Rubem Braga, que transcrevo a seguir – talvez expresse bem esse pensamento do Mestre.

A transformação do milho duro em pipoca macia é o símbolo da grande transformação por que devem passar os homens.

O milho de pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer. Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.

Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa. Só elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos − Dor.

Pode ser o fogo de fora: perder um amor, um filho, um amigo ou o emprego. Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, doenças e sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso do remédio, uma maneira de apagar o fogo. Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.

Imagino que a pipoca dentro da panela, ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não consegue imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada.

A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí vem sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação que acontece: BUM! E ela aparece completamente diferente, como nunca havia sonhado.

Piruá é o milho que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas ser. A sua presunção e o medo é a dura casca que não estoura.

O destino delas é triste. Elas ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria para ninguém.

Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.

E você, o que é? Uma pipoca estourada, ou um piruá?

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