“Felizes os aflitos, porque serão consolados” (Mateus, 5:4).
DELPHINE
GIRARDIN, em 1861, no Cap. V, do Evangelho Segundo o Espiritismo, discorre
sobre a Verdadeira Desgraça. Para melhor interpretá-la eis a seguinte história
sobre o texto:
O velho
Januário e sua neta Alice sempre caminhavam pelo bosque. Ele aproveitava essas
ocasiões para passar conhecimentos à inteligente jovem.
Para
isso, ele a interrogava sobre assuntos que demandam reflexão sobre a vida e,
certa vez resolveu questioná-la sobre a infelicidade.
— Alice,
quem você acha que é infeliz na vida?
— Eu acho
vovô, que infeliz é aquele que vive na miséria, no fogão sem gás, nas contas
que não pode pagar, nas lágrimas, no caixão de um ente querido, que se
acompanha com o coração partido...
— Pois,
minha querida, a tudo isso e muitas outras coisas se dá o nome de infelicidade na linguagem humana –
daqueles que veem apenas o presente.
— Mas
existe outra maneira de se ver a infelicidade?
– perguntou Alice.
— A
verdadeira infelicidade está mais
nas consequências de um fato do que nele próprio.
— Como
assim?! – questionou novamente a jovem sem nada entender.
— Diga-me,
querida, se o mais feliz acontecimento para o momento, que depois resulta em consequências
desastrosas, não é na realidade mais infeliz do que aquele, que à primeira
vista causa uma contrariedade, mas acaba produzindo o bem?
— Ih! Que
complicação vovô!
— Vou
facilitar o entendimento. Diga-me então, se a tempestade que quebra as árvores,
mas que saneia o ar ao eliminar os vírus insalubres que causam a morte, não é
antes uma felicidade do que uma infelicidade?
— Quer
dizer então que pra julgar algo temos que ver as consequências?!
— Isso
mesmo, querida, para apreciar o que é realmente feliz ou infeliz para as
pessoas, é preciso se transportar além desta vida, pois é lá que as consequências
se fazem sentir. Portanto, tudo o que uma pessoa chama de infelicidade, segundo
sua curta visão, cessa com a morte do corpo e encontra sua compensação na vida
futura, com a eternidade da alma.
— Então,
vovô, revele-me a infelicidade sob
essa nova face.
— A infelicidade assim é essa alegria
falsa, o prazer egoísta, a fama enganadora, a agitação fútil, a louca
satisfação da vaidade...
— Pelo
que entendi, então, a real infelicidade
não são as dificuldades da vida, as lutas contra a falta de bens materiais, mas
os vícios da alma.
— Isso
mesmo. O homem vaidoso, egoísta e orgulhoso vive os prazeres do mundo sem
qualquer preparo para a vida depois da morte. E, da mesma forma aqueles que
detêm poder e fortuna e vivem na corrupção, terão como consequência de seus
atos os horrores da morte – como apresentados no filme Nosso Lar.
— Vovô,
se eu entendi bem a verdadeira face da infelicidade, vou
acrescentar mais um vício à sua lista de infelizes: o invejoso.
— Por
quê? – indagou Januário.
— Porque o invejoso é um infeliz e eterno
expectador. Pois enquanto você dorme pacificamente, ele perde o sono pensando
— Muito
bem, Alice! O invejoso é um bom
exemplo de pessoa infeliz. Ele merece compaixão, pois ainda não sabe que existimos não para sermos melhores do que
os outros, mas para sermos melhores do que nós próprios.
Pois, conhecendo
sua Potência e Poder, não existe nenhuma dificuldade que você não possa
superá-la. “Vós sois deuses”. Lembre-se
disso! Você é um fractal divino!...
Depois
que as dificuldades fazem você ganhar a Si Mesmo, todos os caminhos se tornam
retos e planos. E, então, Mãos de Ajuda lhe são estendidas pela Providência
Divina.