Resignação é uma disposição firme de renúncia pela
anuência vinda do coração.
No seu livro intitulado “Maria de Nazaré”, Ed. Luz no Lar, Roque Jacinto nos conta, que no
Calvário, aos pés da cruz, Maria de Nazaré apercebeu-se que Jesus, com seus
olhos plenos de compaixão, olha seus algozes e clama:
– Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!
Maria, nesse instante, ouviu gemidos de dor. Olhou à
sua volta, vendo aproximar-se um jovem de olhos esbugalhados, desvairado em si
mesmo.
O estranho visitante fitou Maria e, num impulso
súbito, entre soluços, atirou-se aos pés da cruz, abraçando-se ao madeiro seco.
– Salve-me, Senhor! – bradava, espumando pela boca.
E, caindo ao chão, em crise epilética, estertorava,
dizendo:
– Você, Divino Crucificado..., era minha última
esperança!
Maria, incontinenti, avançou na direção do jovem e,
tendo a João a seu lado, recolheu a cabeça do infeliz em seu colo, num gesto de
infinito amor.
– Ajude-me! – clamava o jovem maltrapilho. – Retire-me
das Sombras espirituais que me enlouquecem!
E, de uma das mãos cravejadas de Jesus, caíram duas
gotas de sangue sobre a fronte do lunático.
– Oh! – chorou. – O Senhor se apiedou de mim!
E, Maria sentiu que o lunático se recompunha e se erguia
liberto das trevas dolorosas em que estivera mergulhado.
– Filho! – disse Maria ao jovem. – Só posso
repetir-lhe o que Jesus dizia, após nos trazer à Luz de um novo estado d’alma: “Vá e não erre mais!”.
João estava comovido. O ex-lunático, olhando a Jesus,
na cruz, voltou-se à Maria, grato e temente:
– Acaba..., aqui, o Cristo?!
– Não, meu caro! – esclareceu Maria. – Aqui, neste
Calvário somos herdeiros de Jesus..., e em nome do Bem, deveremos soerguer-nos
com a legenda do amor em nossos atos, a benefício da obra que meu Filho
instalou no coração de todos os homens de boa vontade!
Os verde-azuis olhos de Maria recobriram-se de
lágrimas de resignação e de profundo
amor.
Só vamos entender a atitude de Maria, sabendo o que é resignação.
Resignação significa renúncia; sujeição paciente às amarguras da
vida; mas que não pode ser
confundida com indiferença, ingenuidade, inércia, acomodação, negação do
sentimento e da vontade, ou conformação com a sorte: “Deus quer assim!”. Porque Resignação
é uma conformidade ativa nos infortúnios da vida. É uma atitude de quem está
plenamente consciente da situação.
Resignação, portanto, não é simples aceitação, mas compreensão de todo o processo evolutivo do ser
humano. É, assim, uma força ativa dentro de si, que vai além do consentimento
da razão, porque carrega as provas que a revolta insensata não suporta.
A resignação é o consentimento do
coração, que faz a pessoa ser paciente com os sofrimentos. Seu coração lhe
diz “o porquê” daquilo... Tem intuição!...
E entende então a dor daquele momento como uma oportunidade de crescimento. Por
conhecer os desígnios de Deus não aparenta sofrimento. E por isso, até se diz
que resignação é dor sem
sofrimento.
Para o resignado a dor do momento é um convite ao
reajuste; e não de sofrimento. Para ele o sofrimento vem depois como resposta, como
reação.
Quem é resignado tem uma grande capacidade de
resiliência (propriedade de retornar a sua forma original), que lhe permite sair
do fundo do poço, para “dar a volta por
cima” e se transformar.
Resignação é, pois, a coragem da VIRTUDE DO ESPÍRITO moralmente
amadurecido, cheio de amor, que não lamenta a sorte que tem, porque vibra numa
frequência maior, que lhe permite vislumbrar os acontecimentos do mundo do alto
de uma pirâmide espiritual.
Maria se submeteu conscientemente aos sofrimentos,
porque sabia da missão de Jesus, e com Ele vivenciou o amor ao próximo. Tinha
convicção firme sobre a eternidade do Espírito. Sabia que todos têm as suas
cruzes para carregar e, por isso, servia ao mundo, sem exigir que a aceitassem
ou a compreendessem.
E enquanto cada um de nós carrega a sua cruz no
caminho da própria redenção; num exemplo imorredouro, o Filho de Maria carregou
a Cruz do Calvário para redenção de toda a humanidade.