“Não existe nenhum vício, ou desejo, ou avareza, ou luxúria, ou embriaguez que seja pior que um temperamento intolerante” (Henry Drummond)
O intolerante é a pessoa: que não desculpa; que não cede... O intolerante não é indulgente, pois não está pronto para perdoar, não admite e nem respeita as opiniões contrárias à sua.
A intolerância é citada na Bíblia, em diversas passagens, como o elemento mais destruidor da nossa maneira de agir. E, apesar disso, às vezes percebemos que a intolerância é um preconceito presente na vida de pessoa que se julga virtuosa, que tem tudo para ser gentil e nobre. É aquela pessoa quase perfeita, mas que – de repente – acha que está certa em alguma coisa e perde a cabeça por causa disto.
No Reino de Deus não existe lugar para o intolerante, pois ele conseguiria tornar o Paraíso insuportável para si e para os outros.
Os intolerantes são “promotores da discórdia”. Pois, onde se encontram irradiam, com a simples presença, sua aura belicosa, irritando todos aqueles que entram na faixa espiritual deles.
O intolerante só começará a sentir a brisa da paz, quando se transformar radicalmente, criando condições espirituais de complacência, aceitando as pessoas como elas são.
E esse é um aprendizado difícil, sofrido, frontalmente contrário aos desejos de seu ego. Entretanto, vencida essa barreira, ele descobre a serenidade íntima oriunda das vibrações de amor, que pacificam os que gozam de sua intimidade. E passa a ser tolerante porque entende que a tolerância é necessária para vivermos em paz.
Segundo Mahatma Gandhi, “A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos”.
Todavia, há aqueles que dizem que a tolerância tem limites. E, para isso, se baseiam na fábula, abaixo, de André Luiz, psicografada por Chico Xavier no livro “Os Mensageiros”.
A Serpente e o Santo
Contam as tradições populares da Índia que existia uma Serpente venenosa em certo campo. Ninguém se interessava a passar por lá, receando-lhe o assalto. Mas um Santo homem, a serviço de Deus, buscou a região, mais confiado no Senhor, que em si mesmo. A Serpente atacou-o, desrespeitosa. Ele dominou-a, porém, com o olhar sereno, e falou:
− Minha irmã, é da lei que não façamos mal a ninguém.
A Víbora recolheu-se envergonhada.
Continuou o Sábio o seu caminho e a Serpente modificou-se completamente. Procurou os lugares habitados pelo homem, como desejosa de reparar os antigos crimes. Mostrou-se integralmente pacífica, mas, desde então, começaram a abusar dela. Quando lhe identificaram a submissão absoluta, homens, mulheres e crianças davam-lhe pedradas.
A infeliz recolheu-se à toca, desalentada. Vivia aflita, medrosa, desanimada.
Eis, porém, que o Santo voltou pelo mesmo caminho e deliberou visitá-la. Espantou-se, observando tamanha ruína. A Serpente contou-lhe, então, a história amargurada. Desejava ser boa, afável, carinhosa, tolerante, mas as criaturas perseguiam-na e apedrejavam-na. O Sábio pensou, pensou, e, após ouvi-la, respondeu:
− Mas, minha irmã, houve engano de tua parte. Aconselhei-te a não morderes ninguém, a não praticares o assassínio e a perseguição, mas não te disse que evitasses assustar os maus. Não ataques às criaturas de Deus, nossas irmãs no mesmo caminho da vida, mas defende a tua cooperação na obra do Senhor. Não mordas, não firas, mas é preciso manter o perverso à distância, mostrando-lhe os teus dentes e emitindo os teus silvos.