“Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça”
(Marcos
7,16).
Um
Príncipe foi ao Templo estudar com
um grande Mestre, a fim de se
preparar para a administração do reino.
Lá
no Templo, o Mestre logo mandou o Príncipe sozinho à floresta. Ele
deveria voltar um ano depois, com a tarefa de descrever os sons da floresta.
Quando
voltou, o Mestre lhe pediu para
descrever os sons de tudo aquilo que tinha conseguido ouvir.
— Mestre – disse o Príncipe –, eu pude ouvir o canto dos pássaros, o roçar das folhas,
o alvoroço dos beija-flores, a brisa batendo suavemente na grama, o zumbido das
abelhas e o barulho do vento cortando os céus.
Quando
o Príncipe terminou, o Mestre mandou-o de volta à floresta
para ouvir tudo o mais que fosse possível. O Príncipe ficou intrigado com a ordem do Mestre. Ele já não tinha distinguido cada som da floresta?
Por
longos dias e noites o Príncipe se
sentou sozinho na floresta, ouvindo, ouvindo... Porém, não distinguiu nada de
novo!...
Mas,
numa certa manhã na floresta, começou a discernir sons vagos... Diferentes de
tudo o que ouvira antes! Quanto mais atenção prestava, mais claros eram os
sons. Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz. “Esses devem ser os sons que o Mestre
queria que eu ouvisse”, pensou.
O Príncipe passou horas ali, ouvindo e
ouvindo... Queria ter a certeza de que
estava no caminho certo.
Quando
retornou ao Templo, o Mestre lhe
perguntou:
—
O que mais conseguiu ouvir?
— Mestre, quando prestei mais atenção, eu
pude ouvir o Inaudível: o som do sol aquecendo a terra; das flores se
abrindo; e o som da grama bebendo o orvalho da manhã.
O Mestre acenou com a cabeça em sinal de
aprovação:
—
Ouvir o Inaudível é ter a disciplina necessária para se tornar um grande administrador. Só quando ele aprende
a ouvir o coração das pessoas, os
próprios sentimentos mudos, os medos inconfessos, e as reprimidas queixas é que
poderá inspirar confiança em seus comandados... E entender o que está errado
para atender às reais necessidades dos liderados.
—
A morte de um reino começa –
concluiu o Mestre – quando os líderes ouvem apenas as palavras pronunciadas
pela boca, sem mergulhar fundo na alma das pessoas para ouvir seus sentimentos,
desejos e opiniões reais.
Este conto, adaptado de um
dos livros de Alexandre Rangel, serve aos gestores de um modo geral, e, em
especial, aos administradores públicos.
Pois
o povo, muitas vezes se sente abandonado depois das eleições... É comum a gente
ver as escadarias e o saguão tanto do Poder Executivo como do Legislativo,
vazios de gente; do cidadão pagador de impostos, que acaba não tendo a quem
recorrer!...
Esta
cena pode estar determinando a morte
social da cidade. Portanto, se você saiu vitorioso na eleição, tenha
ouvidos para ouvir o Inaudível...
Inaudível é o som que quase não se ouve ou que se
ouve muito dificilmente. Pois é o som que exige uma disciplina imprescindível
para ser ouvido.
Exemplo
disso são os músicos, de ouvidos disciplinados, que conseguem definir com
precisão os acordes da melodia, citando o Tom
– que é a altura do Som, determinada
pela frequência da onda sonora que o produz.
Jesus
alertava sobre o Inaudível:
“Ouvireis com vossos ouvidos e não
entendereis...” (Mateus 13,14).
Para
se chegar ao Inaudível é preciso
sentir o pulsar do coração das pessoas, ter empatia com o próximo e
aceitação do outro... Em síntese: entender o sentimento do ser humano.
Esse
é o sentido da democracia!...
O homem
público, decidindo essa linha de conduta
será capaz de sentir: o cheiro do
povo; as necessidades da população; a beleza da vida; o perfume do amor e o
despertar de uma nova consciência planetária...
E,
de entender:
1.
Que tem um poder efêmero, de pouca duração;
2.
Que não é um
chefe eterno, pois está no cargo
que ocupa por um tempo muito limitado;
3.
E que deve cuidar de seu Estado de Consciência...
O
bom administrador vai sentir todas as bênçãos, em todos os aspectos de sua
gestão, ouvindo à sua cidade!
Pois,
“Uma
cidade feliz floresce!”.