“Deus lhe pedirá contas do bem que não houver feito”. (L.E. questão 657).
Conheci, na mocidade, um agricultor que ganhou um bom
dinheiro numa safra. Pagou as dívidas e comprou um fusca zero km, bem equipado,
com direito a entrega na sua casa, na zona rural, com fotos e entrevista para
publicidade.
Ninguém via o fusca rodando. Estava sempre novo, parado
na garagem. Mas se alguém perguntava sobre a rodagem do carro, o dono meio
acanhado logo dizia: “tá zero km”. E
se desculpava: “ainda não tirei a
carteira de motorista”.
O tempo passava..., e continuava o fusca lá na
garagem! A esposa e nem os filhos podiam usufruir daquela máquina!
Nenhum motorista podia utilizar o carro. E agora ele
se justificava de outro jeito: “tô
aguardando comprador; é carro de garagem, zero km; valorizou!”.
Alguns anos depois ele adoeceu e os familiares
resolveram usar aquele veículo para levá-lo ao hospital. Mas quem diz do carro
pegar! Ele acabou sendo levado de ônibus, encalhando na estrada, chegando ao
hospital sofrendo muito. Um dia depois não resistiu e veio a falecer.
Quando os herdeiros resolveram consertar o carro,
foram surpreendidos com a má notícia dada pelo mecânico: “É... Acho que o motor tá fundido!”.
Final da história, o fusca foi vendido pela metade do
preço de tabela.
Lembrei-me deste episódio verídico como analogia ao tema
ora proposto.
Vida Contemplativa é uma vida mística de devoção, de meditação, de
crença numa divindade e no sobrenatural.
A Vida Contemplativa ou Mística, simbolicamente é como
o veículo parado, que não sai do lugar ou que só fica na garagem. Tem alguma
utilidade? Não! Pois é um carro inútil, sem serventia.
A pessoa que se isola para não se expor ao pecado ou
às tentações da vida, e se entrega a uma Vida Contemplativa, meditativa, só de
rezas aos santos, anjos, espíritos ou ao Criador, mesmo não fazendo nenhum mal,
não tem mérito algum aos olhos de Deus! Sabe por quê?
Porque é uma pessoa inútil à vida! Se não faz o mal,
também não faz o bem. E não fazer o bem já é um mal – um pecado a ser reparado um
dia. E pior ainda é quando seus atos
desmentem a doutrina que prega! Pois às vezes não faz o mal, mas tira proveito
do mal feito por outrem!
Devemos
fazer o bem no limite de nossas forças;
pois responderemos perante Deus por todo o mal que resultar de não havermos
praticado o bem.
Pela Vida
Contemplativa temos que pensar em Deus, mas só isso não basta, pois Deus
deu a todos nós deveres a cumprir na Terra, que exigem uma Vida Ativa (de ação!). Uma vida para agir com livre-arbítrio e
obter o mérito daquilo que se faz de bem: como servir ao próximo; à família; lutar
pelo desenvolvimento local; pela paz... Enfim, ser útil à humanidade.
Disse Paulo que “Assim
como o corpo sem a alma é morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tiago
2,26).
Da mesma forma podemos dizer que a fé mística,
contemplativa, sem ações (obras) é morta. Não salva ninguém!
E Jesus dizia: “Traz-se
porventura a candeia para ser colocada debaixo do alqueire ou debaixo da cama?
Não é para ser posta no candeeiro?” (Mc 4,21).
Colocar a candeia debaixo do alqueire é impedir sua
claridade. O Cristo quer que nossa luz espiritual seja colocada sobre o
candeeiro, para que brilhe a todas as pessoas. Assim, seremos dignos de mérito
aos olhos de Deus.
Quando o Mestre mandou “Amar a Deus sobre todas as coisas
e ao próximo como a si mesmo” estava também, de certa forma, nos
ensinando dois preceitos:
● Da Adoração – Amar a Deus – lei natural que está no nosso coração. E que consiste
na elevação do pensamento ao Criador (Vida
Contemplativa, de meditação) para sentirmos a Sua presença e recebermos a
Sua proteção.
● Da Evolução – Amar ao Próximo – lei natural pela qual o ser humano traz em si o
germe do seu aprimoramento (Vida Ativa,
de ação). E que consiste na lapidação do Espírito por todos os meios de
convivência e no aperfeiçoamento moral da alma através do amor fraternal, da
solidariedade e da caridade...
Este preceito evolutivo visa tanto o progresso
material quanto o espiritual. É aquisição de experiências que desenvolve a inteligência,
educa e revigora a moral.
Buscando a perfeição espiritual o ser humano é feliz,
pois chegará ao ponto de se aproximar de Deus e de poder vê-Lo em toda a sua
glória eterna!
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