Aquecendo a Vida

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sábado, 4 de maio de 2024

PARÁBOLA DOS POTES

 

O seu suor se verterá em benefício de sua própria felicidade.


Num canto do quintal dois grandes e belos Potes falavam entre si:

— Que tédio! Que vida! Viver aqui, exposto a tudo, sol, vento, chuva, calor... Por mais que me proteja, como sobreviverei? Aqui estou perfeitamente tampado, lacrado para me proteger e ainda assim me sinto ameaçado, vazio. Não vejo graça em estar aqui.

Tranquilamente, retrucava o outro:

— Veja, eu estou aqui, aberto, nada me protege a boca, nem meu interior. Cai a chuva, e eu a recebo. Vem o vento, e eu sinto-o bem dentro de mim. Vem o sol e me leva as gotinhas que retornam ao céu. E nem por isso me sinto ameaçado...

— Ora, grande vantagem! Seu interior não tem mais a cor original como o meu, sua cor é cada vez mais diferente. Você não é mais o mesmo...

— Sim, e isso me alegra! O meu interior se transforma à medida que novas coisas me penetram. Sinto cada criatura que me visita e cada uma delas deixa algo em mim, assim como deixo a elas, pouco a pouco, a minha cor.

— É, mas você não tem mais paz. A todo instante você é solicitado para levar água, ao passo que eu permaneço no meu lugar. Ninguém me incomoda. Quando se aproximam, já sei que é a você que eles querem.

— Sim, me solicitam porque tenho algo a dar e o que dou não é diferente do que você pode dar. A água da chuva, que cai tanto sobre mim quanto em você me enche até transbordar. Outros seres precisam dessa água, e eu os sirvo. Esvazio-me e me deixo encher de novo. Minha vida é um constante dar e receber. Enquanto isso eu me desinstalo, saio daqui e vou ao encontro de outros mundos. Já conheci potes diversos, animais, seres, pessoas e tantas coisas. E isso me faz perceber ainda mais o Pote que Eu Sou!

— Não sei, mas se continuar assim em breve será um Pote quebrado. Então, de que adiantará tudo isso?

— Se me desgasto a cada dia é para ser útil e levar vida a outros seres.  Vejo que o importante não é ser um Pote intacto tal como fui feito, mas um Pote Aberto de valor, no qual me tornei. Se for durar pouco tempo, não importa; se o pouco que eu viver tiver sentido, me der alegrias e me fizer sentir cada vez mais o que é ser Pote, isso me basta...

O sol já se havia escondido quando os dois se cansaram de falar. O Pote Aberto, cansado, logo adormeceu; o que não foi possível para o outro. Ele não dormia, porque não lhe saiam da mente as palavras do companheiro que não o deixava em paz:

Transformar o interior! Paz! Esvaziar-se! Deixar-se encher! Deixar algo de si! Ser Pote! Desinstalar-se! Ser pequeno mundo! Ser feliz! Ser útil! Levar alegria! Humildade! Paciência! Mansidão!...

Na manhã seguinte, enquanto um Pote acordava, o outro Pote dormia ronquejando, porque fora grande seu esforço para tirar a tampa que o acompanhara por tantos e tantos anos.


Essa narrativa do Vol. II do Livro “Parábolas” de Alexandre Rangel, contém preceitos morais interessantes.

Diz um ditado, de duplo sentido, que “Pedra que rola não cria limo”, o qual se aplica a esta Parábola quando entendemos que a pessoa que se torna inútil na vida e não serve a ninguém, vive no lodo, se atrofia, e perde tudo: valor, apoio, proteção. Desamparado, fica como Pote Fechado... E adoece!...

“O seu desânimo não edificará ninguém”, disse Chico Xavier. Por isso, se mova e se renove constantemente. “Não te maravilhes de que eu te tenha dito: Necessário vos é nascer de novo”. (João 3,7)

Embora Jesus, em Mateus 6,34, tenha dito: "Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã” – visando uma mente mais saudável –, sabe-se também, que tanto na abundância quanto na escassez de apreensões, as doenças ganham valor.

E, sabe-se ainda, que a tristeza se intensifica na mesma proporção da intensidade da doença... Causando a depressão, que cria a ferrugem da alma. Ferrugem que reflete o vazio de obras do Espírito sem ascensão espiritual.

“Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai com seus anjos; e então dará a cada um segundo suas obras”. (Mateus 16,27).

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