“Sem fé, não
pode existir caridade” (João de Camargo).
1858, no dia cinco de julho veio ao
mundo um robusto menino que ficaria famoso no Brasil como taumaturgo (milagreiro),
e cuja fama ultrapassaria todas as nossas fronteiras.
Era filho da benzedeira Nhá Chica. Foi
batizado na Capela de Nossa Senhora das Dores, na freguesia de Sarapuí – Vila de
Itapetininga-SP.
Segundo
depoimentos dos jornais: “O negrinho foi
dado para a família dos Camargo Barros com seis anos de idade e passou a ser
pajem da recém-nascida daquela família, Emília Camargo Barros, de quem foi
dedicado criado até o seu casamento”.
O escravo
João de Camargo Barros foi iniciado por sua mãe nos mistérios do curandeirismo,
mas a sua cultura religiosa veio do catolicismo, praticado por Ana Teresa – sua
sinhazinha.
Livre,
com 22 anos, ele já estava em Sorocaba-SP, onde a luta pela emancipação dos
escravos continuava... A forte participação da maçonaria e o declínio dos movimentos
fez com que a Câmara Legislativa proclamasse no município, em 22/12/1887, a
Alforria de seu povo, meses antes de a Princesa Isabel oficializá-la no Brasil.
Às margens do Córrego da Água Vermelha
– há 2 km do centro –, havia a “A cruz de
Alfredinho” – guri de oito anos, que ali morreu acidentado.
Quando
João passava por essa cruz, acendia uma vela e ficava em preces meditando, sem
saber, que ali, uma missão mudaria o seu destino.
Em 1906, aos 48 anos de idade, o preto
velho analfabeto, com tendência ao alcoolismo, já estava cansado de mudar de
patrão e passar por empregos de mão-de-obra barata (lavrador, oleiro, pedreiro,
cozinheiro, etc.) quando, em êxtase, num dia chuvoso, teve aos pés daquela cruz
uma visão com um menino sorrindo, que lhe disse:
— Não
tenha medo! Sou seu protetor. Faça tudo
o que eu lhe ditar.
O garoto
lhe pediu que erguesse uma capela naquele local. A partir daí João deixou a
bebida. E, diante da dor e da miséria humana, passou a ser um piedoso
missionário, edificando ali, com a participação popular – um ano após a sua visão
–, uma Capelinha, em um terreno
doado, que depois de muitas reformas transformou-se, numa Igreja, registrada
oficialmente em 1921, como Associação Espírita e Beneficente Capela do
Senhor do Bonfim, situada à Av. Barão de Tatuí, nº 1083, Bairro Jardim
Vergueiro, reunindo muitos fiéis nesse local.
Para
os Espíritas, João de Camargo era médium auditivo e mantinha contato com
monsenhor João Soares do Amaral. Segundo disse Dona Benedita, em 1989, antiga
zeladora da Capela, “Nhô João conversava com Nossa Senhora”.
Identificado
como “Um
Santo Homem”, O benzedor Nhô João se tornou popular até no Exterior, devido
às curas de muitas moléstias, e o alívio de muitas almas pelos seus conselhos. Recebia
mensalmente um grande volume de cartas de todas as partes do mundo. Por tudo
isso, foi classificado pelos jornais italianos e pelo sociólogo Florestan
Fernandes como O PAPA NEGRO DE SOROCABA.
Fundou
o Grupo Musical São Luís, sendo compositor de dobrados. Ajudava os estudantes com
“guias”
(papeizinhos cortados em retângulos riscados com lápis em diagonal) abençoadas para
obterem sucesso nas provas e exames.
Aos
doentes beneficiados por suas preces Nhô João sempre enfatizava: “Quem
cura é Deus”. Pois sabia que ele era apenas um instrumento a serviço da
caridade. Por isso, foi perseguido, denunciado e preso diversas vezes. Mas ele
não desistia de curar...
Foi
processado pela prática de curandeirismo e absolvido por que nada cobrava; e
curava só com água pura, folha de eucalipto e muita fé!... E ainda cura
milhares de fiéis que chegam todos os dias ao cemitério da Saudade onde foi
sepultado em 1942. É um Espírito de Luz que continua praticando a caridade em
muitos Centros Espírita.
Paulo
Betti produziu sobre a vida de Nhô João, o filme Cafundó, que obteve 17 prêmios
internacionais.
Conheci
essa linda história de fé, em Sorocaba, em 1955, quando concluí o Primário, na “E.E.
Prof. Aggêo Pereira do Amaral”, da Árvore Grande.
Resgate da história é sempre bem vinda...🙌👏👏👏👏👏👏👏
ResponderExcluirEu cheguei aqui por um acaso, gostei dos textos que li.
ResponderExcluirFaço uma ressalva: "há 2 km do centro" deve ser escrito "a 2 km ...".
Obrigado.