Aquecendo a Vida

Aquecendo  a Vida

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sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

QUEM É O ALUNO?

 

“Se não fosse Imperador desejaria ser Professor”. (D. Pedro II)


Fim de Férias. É hora de pensar num assunto que importa a todo mundo: A EDUCAÇÃO. Tanto, que Dom Pedro II – “o Magnânimo” –, a considerava como de importância Nacional. E chegou a dizer: “Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro”.

Duas instituições são fortes nesse processo: a Família e a Escola, que têm a responsabilidade maior de conduzir bem a criança, para a sua integração plena na sociedade.

A Família é a primeira educadora. Aí a vida começa a ter significado para a criança, porque passa a se sentir com individualidade própria, compreendendo a importância dos valores morais na sua interação com o mundo.

A segunda educadora é a Escola – a parceira da Família no processo de ensino aprendizagem. Mas, o ideal disso, unindo pais e professores, bem como toda a comunidade é que se torne um processo coletivo – visto como uma forma de Reeducação do aluno, que está em constante transformação.

Com todo respeito aos nossos Mestres, devemos ver o aluno na Escola como a pessoa mais importante do processo escolar. Ele depende de todos, e todos nós – educadores – dependemos muito dele e com ele também aprendemos belíssimas lições de vida. Ele é, pois, o propósito de nosso trabalho.

O aluno não significa só um número a mais no diário de classe. É um ser com sentimentos, carente de atenção, carinho, respeito, compreensão... Ele não está na escola de favor. Não lhe fazemos nenhum favorecimento por mantê-lo na sala de aula. Ele é a parte essencial do nosso trabalho; e não uma parte descartável!

O aluno está em nossas mãos para incorporar valores, para ser um cidadão responsável, com direitos e obrigações. É um diamante a ser lapidado! E por uma aresta mal aparada pode ser condenado à marginalidade social. Portanto, nada de rotulá-lo de “relapso”, “vagabundo”, “idiota”, “burro”... Ele é apenas “um aluno diferente”, que deve ser ajudado nas suas dificuldades.

O aluno tem direito de argumentar e de ser ouvido com atenção. Precisa, portanto, ser cuidado com todo o amor, não só pelo aproveitamento escolar, mas para que desenvolva a autoestima numa perspectiva de reeducação para a vida.

Aluno e Educador são companheiros de caminhada. E o caminho é o do amor! Como então educá-lo, se o Mestre for por outro caminho? Ele é a alma de toda atividade escolar! Visto que não existe ensino sem aprendizagem, “ninguém pode falar que ensinou quando ninguém aprendeu”. Existe, por acaso, Mestre sem Aprendiz? Então, O Aprendiz merece toda a consideração possível. É ele quem garante o salário do pessoal da educação!  

A Educação, que não se resume só num conjunto dos hábitos adquiridos pelo aluno, deve ser uma preocupação constante de um povo que quer ser soberano.  Pois, Educar é a Arte de Formar o Caráter do cidadão, ou seja, seu feitio moral, sua índole.

A qualidade da Educação depende da Arte de Formar Bons Hábitos, que resulta na Garantia da Segurança de Todos.  Por isso penso que sem Educação a Economia é utopia! Pois só a Educação bem compreendida, com ensino de qualidade, pode curar as chagas de uma nação.

Por esses motivos é que os políticos manipuladores, quando tomam o poder, não investem em Educação. E, ainda, propõem medidas desagregadoras: que retira do currículo escolar o ensino moral, cívico e religioso; e que defendem a promoção automática, para formar os analfabetos funcionais... Tudo em nome da “democracia” e do “progressismo”, Eles sabem que “o povo perece por falta de conhecimento”.

Enfim, a arte de ensinar ou de REENSINAR é resiliente, pois varia com o tempo e as pessoas e, por isso, deve ser vista mais como um processo de REEDUCAÇÃO social, sentimental, comportamental, religiosa, alimentar, financeira, política... Que tenha por objetivo a felicidade do aluno!

Segundo Sidarta Gautama – o Buda: “A sabedoria já existe dentro de cada ser, o mestre apenas a desperta”.

sábado, 21 de janeiro de 2023

A GRANDE “NEBULOSA HUMANA”

 

“Os sãos não precisam de médico, mas os enfermos” (Marcos 2,17).


Padre João era sempre procurado na sua paróquia pelos necessitados. Um dia, após suas orações, ao sair da igreja dois pedintes lhe imploram: “uma esmola pelo amor de Deus!”. Ele então conversou com o primeiro mendigo para melhor conhecê-lo:

— Você é extravagante? — Sim!...

— E você gosta de sentar-se por aí, tomar um cafezinho e fumar? — Sim!...

—Gosta de beber, de contar piadas e se divertir com os amigos? — Sim!...

— Chega!... – disse o padre, e deu-lhe uma nota de cinco reais.

E, voltando-se ao outro mendigo, também lhe fez as mesmas perguntas:

— Você é extravagante? — Não!...

— E você gosta de sentar-se por aí, tomar um cafezinho e fumar? — Não!...

—Gosta de beber, de contar piadas e se divertir com os amigos? — Não!...

— Tá bem!... – disse o padre, e deu-lhe uma moeda de um real.

 

Mas, inconformado, este segundo mendigo reclamou:

— Só um real Padre! – O senhor deu àquele pedinte extravagante cinco vezes mais do que a mim! Por quê?...

— Meu irmão – replicou o bondoso pároco –, porque as necessidades dele são bem maiores que as suas!

Pelo diálogo se vê que o padre era um sábio psicólogo! Queria conhecer os paroquianos, para ajudá-los com base na lição do Mestre: “Os sãos não precisam de médico, mas os enfermos”. Ou seja, para ser justo e beneficiá-los conforme o princípio da equidade – que consiste em “dar mais a quem mais precisa”.

A igualdade, literalmente falando, só existe para nós no ponto de partida – de criação do Espírito – e no ponto de chegada – de Espírito puro. Todavia, dentre estes pontos, no processo de desenvolvimento, a igualdade também se dá de forma aleatória, segundo o princípio da equidade.  

Conforme o item 365 do Livro dos Espíritos “O espírito progride numa marcha ascendente e imperceptível”.

Pelo princípio de equidade – de ajudar os mais necessitados –, é que a igualdade se faz presente na marcha de desenvolvimento de todo ser humano, pois nossos destinos estão interligados.

Quem desconhece que a igualdade no desenvolvimento se dá pelo processo de equidade não entende as diferenças sociais. E se revolta! Ou até blasfema contra a justiça de Deus! Não percebe que EVOLUÇÃO é “quando a gente está lá na frente e sente vontade de buscar, quem ficou para trás” – como diz Ravenna, a Camponesa Sonhadora.

A heterogeneidade que se vive em função de nossas diferenças é necessária ao aprendizado. Pois, ao mesmo tempo em que se ensina também se aprende, com os erros e acertos de uns com os outros. Tem-se, então, “avanços e recuos” experienciais incessantes – em forma de uma grande espiral, que gradualmente avança e vai se distanciando do ponto de partida, em movimentos ascendentes, rumo às frequências mais elevadas.

Esse fluxo, que impele cada um ao seu aprimoramento, também se dá em consequência de “ações e reações”, nas “idas e vindas” reencarnatórias, quando se reprograma a vida, para alcançar com harmonia e equilíbrio a igualdade na reta de chegada.

Dentro dessa RODA da VIDA progressiva, através de uma pluralidade de existências, unidos “um por todos e todos por um” ora por baixo ora por cima, ora exaltados, ora rebaixados é que nós aceleramos a marcha ou ora a retardamos em socorro aos que precisam de ajuda. Cumprindo-se, assim, o excelso mandamento de amor ao próximo ensinado por Jesus.

Então se pode ver, lá de um alto ponto da espiritualidade, pela eternidade afora, a “Grande Nebulosa Humana”, em forma de caracol, onde todos, equidistantes uns dos outros, marcham minimizando diferenças e ascendendo a novos degraus... E à medida que todos se elevam as divergências se apagam. E a igualdade aí se faz presente!

A criatura perfectível então rompe a linha de chegada desta grande maratona, com uma individualidade própria, resplandecente, atingindo à homogênea meta de Espírito puro, pronto para se integrar à Fonte Criadora e participar da grande obra do Reino dos Céus.  

Graças à Perfeição de Deus!...

sábado, 14 de janeiro de 2023

NICODEMOS – O PRÍNCIPE JUDEU

 

“A reencarnação é um dos princípios fundamentais do Cristianismo” (Cairbar Schutel).


Nicodemos, príncipe dos judeus, foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe:

— Rabi, sabemos que é um Mestre vindo de Deus. Ninguém pode fazer esses milagres que faz se Deus não estiver com ele.

Jesus replicou-lhe:

— Em verdade, em verdade lhe digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus.

— Como pode um homem renascer, sendo velho? – perguntou-lhe Nicodemos. Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez?

— Em verdade, em verdade lhe digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito. Não se maravilhes de que eu lhe tenha dito: “Necessário vos é nascer de novo”. O vento sopra onde quer; ouve-lhe o ruído, mas não sabe de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito.

Nicodemos replicou-lhe:

— Como se pode fazer isso?

— É doutor em Israel e ignora estas coisas!... – respondeu Jesus. – Em verdade, em verdade lhe digo: dizemos o que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas não recebem o nosso testemunho. Se eu tenho falado das coisas terrenas e não me crê, como vão crer se eu lhes falar das celestiais?

 

As ideias de Hermínio C. Miranda, sobre este Cap. 3 de João, me inspiram também a fazer alguns comentários.

Nicodemos era um judeu influente, membro do Sinédrio (Suprema Corte). Por isso, procurava o Mestre na calada da noite, para desvendar o verdadeiro sentido oculto dos textos sagrados.

Como diz o evangelho, ele tinha Jesus como Mestre, vindo da parte de Deus. E ficou impressionado em saber que é preciso Nascer de Novo para se alcançar o estado de pureza espiritual – que Jesus chama de o “Reino de Deus”.

E Jesus lhe ensina a dualidade do ser humano: que o corpo de carne só pode gerar outro corpo de carne – jamais criar um espírito, que é de origem divina. É o espírito que nasce e renasce na carne, tantas vezes quanto for necessário, até que tenha condições de pureza e sabedoria, que lhe permita entrar no “Reino de Deus”.  

 Quando Jesus compara: o que acontece com aquele que nasceu do Espírito, com o vento que sopra... Temos aí um curioso jogo de palavras, pois o mesmo termo (pneuma) servia para traduzir espírito e vento. O espírito, tal como o vento, é livre e invisível. Só se percebe a sua presença!

Nicodemos, perplexo, insiste em saber: “como se pode fazer isso?”.

Jesus então lhe responde:

— Você é mestre em Israel e não entende estas coisas?

A lógica turbinada desta resposta contundente do Mestre é simples: quem conhecia os textos sagrados, deveria entender, com “olhos que veem”, a engrenagem das vidas sucessivas do Antigo Testamento.

Segundo a questão 480 do Livro dos Espíritos “Uma coisa pode ser verdadeira ou falsa conforme o sentido que se atribui às palavras. As maiores verdades podem parecer absurdas quando se vê apenas a forma e quando se toma a alegoria pela realidade...”.

Nicodemos via apenas a forma (o arquétipo) do nascimento físico. E tomava essa alegoria pela realidade do renascer do espírito, que Jesus lhe explicava. Tanto é assim que ele ainda pergunta: “Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez?”. Aqui fica evidente o sentido das palavras: falam sobre reencarnação!

Outra interpretação que depois se deu a esta doutrina – segundo a qual o Nascer de Novo seria a renovação íntima do indivíduo – é uma ideia aceitável, mas num outro contexto... Porém, não deixa de ser uma ideia absurda neste contexto do que Jesus realmente ensinou a Nicodemos.

Se a reencarnação não existisse Jesus teria dito a Nicodemos! Se fosse uma doutrina errada Jesus não deixaria de combatê-la como fez com tantas outras coisas. Jesus, ao contrário, a sancionou quando insistiu em afirmar: “Não te maravilhes de que eu te tenha dito: necessário vos é nascer de novo”.

sábado, 7 de janeiro de 2023

O PAPA NEGRO DE SOROCABA

 

“Sem fé, não pode existir caridade” (João de Camargo).


1858, no dia cinco de julho veio ao mundo um robusto menino que ficaria famoso no Brasil como taumaturgo (milagreiro), e cuja fama ultrapassaria todas as nossas fronteiras.

Era filho da benzedeira Nhá Chica. Foi batizado na Capela de Nossa Senhora das Dores, na freguesia de Sarapuí – Vila de Itapetininga-SP.

Segundo depoimentos dos jornais: “O negrinho foi dado para a família dos Camargo Barros com seis anos de idade e passou a ser pajem da recém-nascida daquela família, Emília Camargo Barros, de quem foi dedicado criado até o seu casamento”.

O escravo João de Camargo Barros foi iniciado por sua mãe nos mistérios do curandeirismo, mas a sua cultura religiosa veio do catolicismo, praticado por Ana Teresa – sua sinhazinha.

Livre, com 22 anos, ele já estava em Sorocaba-SP, onde a luta pela emancipação dos escravos continuava... A forte participação da maçonaria e o declínio dos movimentos fez com que a Câmara Legislativa proclamasse no município, em 22/12/1887, a Alforria de seu povo, meses antes de a Princesa Isabel oficializá-la no Brasil.

Às margens do Córrego da Água Vermelha – há 2 km do centro –, havia a “A cruz de Alfredinho” – guri de oito anos, que ali morreu acidentado.

Quando João passava por essa cruz, acendia uma vela e ficava em preces meditando, sem saber, que ali, uma missão mudaria o seu destino.

Em 1906, aos 48 anos de idade, o preto velho analfabeto, com tendência ao alcoolismo, já estava cansado de mudar de patrão e passar por empregos de mão-de-obra barata (lavrador, oleiro, pedreiro, cozinheiro, etc.) quando, em êxtase, num dia chuvoso, teve aos pés daquela cruz uma visão com um menino sorrindo, que lhe disse:

— Não tenha medo! Sou seu protetor.  Faça tudo o que eu lhe ditar.

O garoto lhe pediu que erguesse uma capela naquele local. A partir daí João deixou a bebida. E, diante da dor e da miséria humana, passou a ser um piedoso missionário, edificando ali, com a participação popular – um ano após a sua visão –, uma Capelinha, em um terreno doado, que depois de muitas reformas transformou-se, numa Igreja, registrada oficialmente em 1921, como Associação Espírita e Beneficente Capela do Senhor do Bonfim, situada à Av. Barão de Tatuí, nº 1083, Bairro Jardim Vergueiro, reunindo muitos fiéis nesse local.

Para os Espíritas, João de Camargo era médium auditivo e mantinha contato com monsenhor João Soares do Amaral. Segundo disse Dona Benedita, em 1989, antiga zeladora da Capela, “Nhô João conversava com Nossa Senhora”.

Identificado como “Um Santo Homem”, O benzedor Nhô João se tornou popular até no Exterior, devido às curas de muitas moléstias, e o alívio de muitas almas pelos seus conselhos. Recebia mensalmente um grande volume de cartas de todas as partes do mundo. Por tudo isso, foi classificado pelos jornais italianos e pelo sociólogo Florestan Fernandes como O PAPA NEGRO DE SOROCABA.

Fundou o Grupo Musical São Luís, sendo compositor de dobrados. Ajudava os estudantes com “guias” (papeizinhos cortados em retângulos riscados com lápis em diagonal) abençoadas para obterem sucesso nas provas e exames.

Aos doentes beneficiados por suas preces Nhô João sempre enfatizava: “Quem cura é Deus”. Pois sabia que ele era apenas um instrumento a serviço da caridade. Por isso, foi perseguido, denunciado e preso diversas vezes. Mas ele não desistia de curar...

Foi processado pela prática de curandeirismo e absolvido por que nada cobrava; e curava só com água pura, folha de eucalipto e muita fé!... E ainda cura milhares de fiéis que chegam todos os dias ao cemitério da Saudade onde foi sepultado em 1942. É um Espírito de Luz que continua praticando a caridade em muitos Centros Espírita.

Paulo Betti produziu sobre a vida de Nhô João, o filme Cafundó, que obteve 17 prêmios internacionais.   

Conheci essa linda história de fé, em Sorocaba, em 1955, quando concluí o Primário, na “E.E. Prof. Aggêo Pereira do Amaral”, da Árvore Grande.