“Devemos usar o tempo com consciência e sabedoria”
O “Mês Espírita” de Itararé, agora já aprovado por lei municipal,
acontece anualmente, no mês de Outubro, através de palestras públicas,
presenciais, realizadas com a participação das Sociedades Espíritas locais. Mas,
devido à pandemia, neste ano será realizado On-line aos sábados desse mês, às 20h.
Então, para reavivar a
mente daqueles que acreditam na continuidade da vida, na comunicação dos “mortos” e na reencarnação, trago para reflexão, a seguinte história, narrada pelo
palestrante Dr. Alessandro Viana de Paula – Juiz de Direito e escritor espírita
– no dia 21/10/2006, no Centro Espírita Mário dos Santos, intitulada: O BUSCADOR.
UM BUSCADOR
é alguém que busca; não necessariamente alguém que encontra. Não é
necessariamente alguém que sabe o que está buscando; é simplesmente alguém para
quem sua vida é uma busca permanente.
Um dia, o Buscador
sentiu que devia ir à cidade de Kammir. Abandonou tudo e partiu. Após dois dias
de marcha em empoeirados caminhos, ao longe divisou a cidade de Kammir. Um
pouco antes de chegar à cidade, chamou-lhe poderosamente a atenção uma colina
que se encontrava à direita do caminho.
Ela estava coberta de um verde maravilhoso, com
árvores, pássaros, flores encantadoras; e rodeada por uma cerca envernizada.
Uma pequena porta de bronze o convidava a entrar. De repente, sentiu que se
esquecia da cidade e não resistiu à tentação de descansar um momento naquele
lugar.
O Buscador
atravessou o portal e começou a caminhar lentamente entre as brancas pedras
distribuídas aleatoriamente entre as árvores. Permitiu que seus olhos pousassem
como borboletas em cada detalhe desse paraíso multicolor. Seus olhos eram de um
buscador, talvez por isso, descobriu sobre uma daquelas pedras aquela
inscrição:
Abdul Tareg viveu oito anos, seis meses, duas semanas
e três dias.
Sentiu-se um pouco angustiado ao perceber que essa
pedra não era simplesmente uma pedra, era uma lápide. Sentiu pena ao pensar em
uma criança tão nova enterrada naquele lugar.
Olhando ao redor, o homem se deu conta de que a pedra
seguinte também tinha uma inscrição. Aproximou-se e viu que estava escrito:
Yamir Kalib viveu cinco anos, oito meses e três
semanas.
O buscador sentiu-se terrivelmente transtornado. Esse
belo lugar era um cemitério, e cada pedra era uma tumba. Uma por uma, começou a
ler as lápides. Todas tinham inscrições similares: um nome e o exato tempo de
vida do morto. O que lhe causou maior espanto, porém, foi comprovar que quem
mais tinha vivido não ultrapassava os dez anos...
Invadido por uma dor muito grande, sentou-se e começou
a chorar. A pessoa que tomava conta do cemitério, que nesse momento por ali
passava, aproximou-se. Permaneceu em silêncio enquanto olhava o homem chorar e,
após algum tempo, perguntou-lhe:
– O Senhor chora por alguma pessoa da família?
– Não, ninguém da família – ele respondeu. – Mas, o
que se passa nesta cidade? Que coisa tão horrível acontece aqui? Por que tantas
crianças mortas enterradas neste lugar? Qual a horrível maldição que pesa sobre
essas pessoas que as obrigou a construir um cemitério de crianças?
– Acalme-se – disse o velho, sorrindo. – Não existe
nenhuma maldição. O que acontece é que aqui temos um antigo costume que
contarei... Quando um jovem ou uma jovem completa quinze anos, ganha de seus
pais uma caderneta, como esta que eu mesmo levo aqui, pendurada no meu pescoço.
É uma tradição entre a gente que, a partir desse momento, cada vez que você
desfruta intensamente de alguma coisa abre sua caderneta e anota nela: à
esquerda, o que foi desfrutado; à direita, o tempo que durou o prazer.
Conheceu uma moça e se apaixonou por ela? Quanto tempo
durou essa enorme paixão e o prazer de conhecê-la? Uma semana? Duas? Três
semanas e meia? E depois, a emoção do primeiro beijo quanto durou? O minuto e
meio do beijo? Dois dias? Uma semana? E a gravidez ou o nascimento do seu
primeiro filho? E o casamento dos amigos? E a tão desejada viagem? E o encontro
com o irmão que retorna de um longínquo país? Quanto tempo desfrutou dessas
situações? Horas? Dias? Assim, vamos anotando na caderneta cada momento que
desfrutamos... Cada momento.
Se alguém
morre, é nosso costume abrir a caderneta, somar o tempo desfrutado e gravá-lo
sobre a pedra. Este é, para nós, o único tempo vivido.
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