“Muitas vezes se diz melhor calando do que falando em demasia” (Pindaro).
A história que vamos relatar aqui registra
um fato de arbitrariedade.
Arbitrariedade é o ato
arbitrário, despótico, de tirania, injusto e cruel; o procedimento ou o
comportamento caprichoso, sem qualquer fundamento, praticado no tempo do
império, das ditaduras, mas também muito utilizado no atual relacionamento
social.
Antes de ir diretamente ao assunto, é preciso,
porém, ressalvar alguns fatos conhecidos da história a ser narrada.
Sabe-se que Santo Estevão morreu
apedrejado a mando de Paulo de Tarso (São Paulo). E este, em perseguição aos
cristãos, caiu do cavalo às portas de Damasco, quando Jesus lhe apareceu.
Paulo se converteu ao Cristianismo e se
tornou, a partir daí, no maior divulgador da Boa Nova do Cristo.
Feitos estes esclarecimentos, vamos ao
curioso fato ocorrido com o pai de Santo Estevão, no ano de 34, na cidade de
Corinto – colônia romana.
Ele, um velhinho israelita, buscava o
mercado com um cesto nas mãos, quando foi alvejado com gargalhadas de ironia
por um grupo de tribunos. Para se resguardar, em silêncio, se distanciou dos
militares. Nesse instante um dos tribunos, em cujo olhar autoritário perpassava
acentuada malícia, dele se acercou, interrogando-o:
– Olá judeu, como ousas passar sem
saudar os teus senhores?
O velhinho, pai de Santo Estevão,
estacou pálido e trêmulo.
– Teu nome israelita?
– Jochedeb, filho de Jared.
– E por que não saudaste os tribunos
imperiais?
– Senhor, eu não ousei! – explicou quase
lacrimoso.
– Ah! Não ousaste? – rebateu o oficial
com muita aspereza!
Ato contínuo tacou-lhe os punhos
cerrados na cara, sem piedade.
– Toma! Toma cão asqueroso! Aprenda a
ser agradecido! – gritava ao som das gargalhadas dos companheiros.
O velhinho cambaleou, mas não reagiu.
Apesar da dignidade ferida, suportou a zombaria, desculpou-se e prosseguiu no
seu objetivo.
Terminado a compra de peixe e legumes,
ao regressar, deparou com novos grupos de tribunos e sentindo-se alvo de
comentários deprimentes, o velho israelita considerou: – “Deverei saudá-los
para evitar novos bofetões”. Inclinou-se, então, qual mísero escravo e
murmurou tímido:
– Salve valorosos tribunos!
Mal acabou de o dizer e um oficial
exclamou colérico:
– Que é isso? Um judeu a dirigir-se
impunemente aos patrícios?
E novas bofetadas no rosto do infeliz,
até jorrar sangue pelas narinas.
– Safa-te, insolente! – gritou o
agressor, lhe desferindo mais um soco.
O velho Jochedeb buscou o lar, profundamente
humilhado, onde foi consolado pelos conselhos e afeto do filho Jeziel (Santo
Estevão).
Para o tirano é assim: apanha se
saudá-lo e apanha por não saudá-lo. É como diz o ditado: “se correr o bicho pega e se ficar o bicho come!”.
Na sociedade atual existem muitos
resquícios desse despotismo. São os vícios de arbitrariedade! Como os daqueles
que não concordam com nada! Estão sempre “contra
tudo”! Só sabem falar “não”! Você
começa falar e ele já lhe interrompe só para contradizê-lo, dizendo: “Não foi desse jeito que aconteceu”; “assim
não é possível!”.
Quando pede a sua opinião e você começa
a explaná-la, ele não lhe deixa continuar. Você é interrompido tantas vezes,
que fica calado, só escutando e tentando entender tanto desrespeito.
Isso quando ainda não faz um julgamento negativo,
condenando as pessoas citadas por você. E, dessa forma, despreza completamente o
que Jesus recomenda: “Não julgueis, e não sereis julgados” (Mateus,
7,1).
Só ele sabe! Só ele tem razão! Só ele é dono
da verdade!
São criaturas sem escrúpulos, sem um
pingo de indulgência, que não sabem pedir:
por favor; dá licença; permite-me... Só sabem mandar e repreender! Sem
dúvida, esses são os déspotas da família, da entidade... São enfim, os tiranos
da vida social, porque nada está bom para eles!
Você já viu alguém assim? Você tem que “matar um leão por dia” para conviver
com ele! Difícil de carregar! Você nem acredita quando se livra dele!
Gente assim, ainda vive na ilusão da “matrix”; ou pode estar aparentando desvio
de personalidade: pela falta de respeito, consideração; pelo diálogo difícil;
por insatisfação; etecetera...
Com certeza, só vai se corrigir se fizer
autoanálise... Ou se adotar o ensinamento socrático “conhece-te a ti mesmo”, para expandir sua consciência!
Ou, ainda – como aconteceu com São Paulo
–, se “CAIR DO CAVALO”!
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