Aquecendo a Vida

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sábado, 7 de novembro de 2020

VICIOS DE ARBITRARIEDADE

 “Muitas vezes se diz melhor calando do que falando em demasia” (Pindaro).

 


A história que vamos relatar aqui registra um fato de arbitrariedade.

Arbitrariedade é o ato arbitrário, despótico, de tirania, injusto e cruel; o procedimento ou o comportamento caprichoso, sem qualquer fundamento, praticado no tempo do império, das ditaduras, mas também muito utilizado no atual relacionamento social.  

Antes de ir diretamente ao assunto, é preciso, porém, ressalvar alguns fatos conhecidos da história a ser narrada.

Sabe-se que Santo Estevão morreu apedrejado a mando de Paulo de Tarso (São Paulo). E este, em perseguição aos cristãos, caiu do cavalo às portas de Damasco, quando Jesus lhe apareceu.

Paulo se converteu ao Cristianismo e se tornou, a partir daí, no maior divulgador da Boa Nova do Cristo.

Feitos estes esclarecimentos, vamos ao curioso fato ocorrido com o pai de Santo Estevão, no ano de 34, na cidade de Corinto – colônia romana.

Ele, um velhinho israelita, buscava o mercado com um cesto nas mãos, quando foi alvejado com gargalhadas de ironia por um grupo de tribunos. Para se resguardar, em silêncio, se distanciou dos militares. Nesse instante um dos tribunos, em cujo olhar autoritário perpassava acentuada malícia, dele se acercou, interrogando-o:

– Olá judeu, como ousas passar sem saudar os teus senhores?

O velhinho, pai de Santo Estevão, estacou pálido e trêmulo.

– Teu nome israelita?

– Jochedeb, filho de Jared.

– E por que não saudaste os tribunos imperiais?

– Senhor, eu não ousei! – explicou quase lacrimoso.

– Ah! Não ousaste? – rebateu o oficial com muita aspereza!

Ato contínuo tacou-lhe os punhos cerrados na cara, sem piedade.

– Toma! Toma cão asqueroso! Aprenda a ser agradecido! – gritava ao som das gargalhadas dos companheiros.

O velhinho cambaleou, mas não reagiu. Apesar da dignidade ferida, suportou a zombaria, desculpou-se e prosseguiu no seu objetivo.

Terminado a compra de peixe e legumes, ao regressar, deparou com novos grupos de tribunos e sentindo-se alvo de comentários deprimentes, o velho israelita considerou: – “Deverei saudá-los para evitar novos bofetões”. Inclinou-se, então, qual mísero escravo e murmurou tímido:

– Salve valorosos tribunos!

Mal acabou de o dizer e um oficial exclamou colérico:

– Que é isso? Um judeu a dirigir-se impunemente aos patrícios?

E novas bofetadas no rosto do infeliz, até jorrar sangue pelas narinas.

– Safa-te, insolente! – gritou o agressor, lhe desferindo mais um soco.

O velho Jochedeb buscou o lar, profundamente humilhado, onde foi consolado pelos conselhos e afeto do filho Jeziel (Santo Estevão).

Para o tirano é assim: apanha se saudá-lo e apanha por não saudá-lo. É como diz o ditado: “se correr o bicho pega e se ficar o bicho come!”.

Na sociedade atual existem muitos resquícios desse despotismo. São os vícios de arbitrariedade! Como os daqueles que não concordam com nada! Estão sempre “contra tudo”! Só sabem falar “não”! Você começa falar e ele já lhe interrompe só para contradizê-lo, dizendo: “Não foi desse jeito que aconteceu”; “assim não é possível!”.

Quando pede a sua opinião e você começa a explaná-la, ele não lhe deixa continuar. Você é interrompido tantas vezes, que fica calado, só escutando e tentando entender tanto desrespeito.

Isso quando ainda não faz um julgamento negativo, condenando as pessoas citadas por você. E, dessa forma, despreza completamente o que Jesus recomenda: “Não julgueis, e não sereis julgados” (Mateus, 7,1).

Só ele sabe! Só ele tem razão! Só ele é dono da verdade!

São criaturas sem escrúpulos, sem um pingo de indulgência, que não sabem pedir: por favor; dá licença; permite-me... Só sabem mandar e repreender! Sem dúvida, esses são os déspotas da família, da entidade... São enfim, os tiranos da vida social, porque nada está bom para eles!

Você já viu alguém assim? Você tem que “matar um leão por dia” para conviver com ele! Difícil de carregar! Você nem acredita quando se livra dele!

Gente assim, ainda vive na ilusão da “matrix”; ou pode estar aparentando desvio de personalidade: pela falta de respeito, consideração; pelo diálogo difícil; por insatisfação; etecetera...

Com certeza, só vai se corrigir se fizer autoanálise... Ou se adotar o ensinamento socrático “conhece-te a ti mesmo”, para expandir sua consciência!

Ou, ainda – como aconteceu com São Paulo –, se “CAIR DO CAVALO”!


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