“Imprimirei
as minhas leis nos seus corações e as escreverei no seu espírito” (Hb 10,16).
Certa vez um neófito de uma seita esotérica procura seu Mestre e
pergunta:
‒ Deus se ocupa de todos nós?
‒ De todos nós e de todos os seres que criou; por menores que eles sejam.
‒ Mas será que Deus tem necessidade de se ocupar de cada um de nossos
atos para nos recompensar ou punir?
‒ Deus tem leis que regulam todas as nossas ações. E se alguém viola
essas leis a culpa é de quem violou essa lei!
‒ Deus então não faz um julgamento do pecador para puni-lo?
‒ Não..., mas traçou um limite! As doenças e muitas vezes a morte são
consequências de nossos excessos, de nossos erros. Eis então a punição: ela é o
resultado da infração à lei de Deus.
‒ Todas as nossas ações são submetidas às leis de Deus?
‒ Sim, não há nenhum mal praticado, por mais insignificante que nos pareça,
que não consista numa violação dessa lei.
‒ Se sofremos as consequências da violação das leis de Deus, então só
devemos culpar a nós mesmos! É isso?
‒ Deus não castiga ninguém! Somos os próprios artesãos de nossa
felicidade ou infelicidade futura. Há sobre isso até uma fábula interessante
para se meditar:
Um Pai deu a seu filho educação e instrução,
ou seja, os meios para saber conduzir-se. Ele lhe cede um campo para cultivo e
lhe diz: “Aqui está a regra a seguir, e todos os instrumentos necessários para
tornar esse campo fértil e assegurar tua subsistência. Dei-te a instrução para
compreenderes essa regra. Se a seguires, teu campo produzirá em abundância e
proporcionar-te-á repouso nos dias de velhice; se a desprezares, o campo nada
produzirá, e morrerás de fome”. Dito isso, o Pai deixa o filho agir livremente.
E o Mestre, comenta a fábula, assim:
‒ Não é verdade que a produção do campo
para cultivo será proporcional aos cuidados prestados à cultura, e que toda
negligência prejudicará a colheita?
Pois na velhice o filho será feliz
ou infeliz conforme tenha seguido ou negligenciado a regra traçada pelo Pai.
Deus é ainda mais previdente, pois
nos adverte a cada instante se fazemos bem ou mal: envia-nos Espíritos para
inspirar-nos, mas não os escutamos.
Há também a diferença de que Deus
sempre dá ao homem recursos, em novas existências, para reparar os erros
passados, ao passo que o filho de que falamos não tem mais essa oportunidade,
se empregou mal o seu tempo.
Os diálogos acima foram construídos a partir do capítulo do Livro dos
Espíritos que trata da “Intervenção De Deus Nas
Penas e Recompensas” – questões 963 e 964, com
comentários de Kardec.
Mas faltou perguntar: se Deus não Castiga, será que também não Perdoa?!
Lembremos: que as Leis de Deus são perfeitas e imutáveis; que Deus não
criou o ser humano perfeito e acabado; e que lhe deu o Livre-arbítrio para decidir.
Assim, Deus deixa a cada um a responsabilidade pelas consequências de seus
atos. Sem o Livre-arbítrio não há culpa do mal nem mérito do bem!
Não é Deus que impõe as tribulações da vida como castigo; e, da mesma
forma, Deus também não perdoa para não tirar a responsabilidade do Espírito de
agir livremente, para não diminuir o mérito de seus esforços na sua ascensão
espiritual.
Quando alguém se arrepende de um mal feito, Deus aceita o seu pedido de
perdão como um exercício de humildade, de reconhecimento do erro cometido.
As Leis de Deus dão ao pecador todas as condições de sua reabilitação. Se
vitorioso, ele estará plenamente de acordo com elas, e, consequentemente, perdoado
pelos seus próprios méritos.
Deus não castiga porque suas leis são de Amor, e não perdoa porque jamais
se ofende. O perdão de Deus é o nosso
retorno ao caminho reto, pois pela lei da reencarnação já nos perdoa (sem nos
perdoar!), pela nova oportunidade que nos dá para acertar e reconstruir o
futuro.
Jesus pregava o perdão a Deus condicionando-o ao perdão do próximo,
como está na oração dominical: “perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos
ofenderam...”.
Ninguém te condenou? – perguntou Jesus à Mulher adúltera. E, diante da
negativa disse-lhe: “Nem
eu te condeno. Vai e não tornes a pecar” (João 8,11).
Então, ante as Leis Divinas é o próprio ser humano que profere para si
as sentenças de culpa ou absolvição.
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