“Participação
é a palavra de ordem para as mudanças sociais” (Raul Cutait)
Muitas moscas azucrinam nossa vida: borrachudos, pernilongos,
varejeiras, butucas... Pensando nisso, lembrei-me então do ensinamento das
moscas.
Contam que certa vez duas moscas caíram num copo de
leite. A primeira era forte e valente; assim, logo ao cair, nadou até a
borda do copo, mas, como a superfície era muito lisa e ela tinha suas asas
molhadas, não conseguiu sair. Acreditando que não havia saída, a mosca
desanimou, parou de nadar, de se debater e afundou.
Sua companheira de infortúnio, apesar de não ser tão
forte, era tenaz e, por isso, continuou a se debater, a se debater por tanto
tempo que, aos poucos, o leite ao seu redor, com toda aquela agitação, foi se
transformando e formou um pequeno nódulo de manteiga, onde a mosca tenaz
conseguiu com muito esforço subir e dali levantar vôo para algum lugar seguro.
Durante anos, ouvimos esta história como um elogio à
persistência, que, sem dúvida, é um hábito que nos leva ao sucesso, no
entanto...
Tempos depois, a mosca tenaz, por descuido ou
acidente, novamente caiu no copo. Como já havia aprendido em sua experiência
anterior, começou a se debater, na esperança de que, no devido tempo, se
salvaria. Outra mosca, passando por ali e vendo a aflição da companheira de
espécie, pousou na beira do copo e gritou:
– Tem um canudinho ali, nade até lá e suba pelo
canudinho.
A mosca tenaz, baseando-se na sua experiência anterior
de sucesso, não lhe deu ouvidos e continuou a se debater, a se debater, até
que, exausta, afundou no copo cheio de água.
Quantos de nós, baseados em experiências anteriores,
deixamos de notar as mudanças no ambiente e ficamos nos esforçando para
alcançar os resultados esperados até que afundamos na nossa própria falta de
visão?
Quantos ainda não supõem que somente produtos químicos
podem acabar com as moscas? E resistem a qualquer outra experiência! Será mesmo
a falta de saneamento o aparecimento de tantas moscas na cidade? Ou, não será uma
causa maior, de desequilíbrio ambiental?
Sabemos que as larvas da mosca-varejeira
desenvolvem-se em carnes apodrecidas. E que as larvas do borrachudo são
aquáticas, preferindo cachoeiras e corredeiras. Cadê então os predadores?
Sapos, rãs, pererecas, lagartixas, lacraias, besouros, pássaros, peixes,
centopeias, libélulas, ácaros, aranhas, morcegos... Sumiram? Por quê?
Seja um problema de desequilíbrio ambiental, ou de
saneamento básico, não importa... O que importa é que o problema existe e é de
toda a população! Pois é uma tarefa que só tem uma saída? O canudinho da
participação!
O controle dessas moscas só será obtido se todos
trabalharem juntos: administração, legislativo, judiciário, mídia, empresas,
saúde, educação, esporte... Cada um fazendo a sua parte.
Vivemos um momento na história da humanidade que
somente com o envolvimento de todos serão resolvidos os graves problemas
sociais. Por isso, o canudinho da participação deve ser uma saída
não apenas para a questão do meio-ambiente, mas, também, para outras questões
relevantes como a fome, saúde, educação, segurança, desemprego, moradia...
Pois, não há como resolver o problema da degradação ambiental sem resolver o
problema do aviltamento humano (pobreza, miséria, de muitos que sobrevivem em
barracos nas encostas dos córregos). Um é conseqüência do outro e vice-versa.
O cantor Zezé Di Camargo certa vez disse na tevê que
temos um déficit de seis milhões de moradias. Se um milhão de ricos empresários
doassem seis casas estaria resolvido o problema de moradia no país. E garantiu
que já fez a parte dele doando 36 moradias populares. Este é um exemplo de
participação.
Quer outro exemplo: todo empresário que não deixa seu
dinheiro parado e investe para gerar mais emprego também está fazendo a sua
parte.
Há muitas formas de se trabalhar para o bem comum. O
canudinho da participação é uma delas. E tem até um aspecto caritativo!
Façamos então a nossa parte, sem esquecer que: “Fora da Caridade não há
Salvação!”.
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