“A
devoção é o anjo consolador das almas piedosas” (Gracia Da Cunha Matos).
A queda do avião que ceifou a vida de quase um time
inteiro de futebol, ainda repercute... Numa calamidade desse porte, por toda
parte se multiplicam os impulsos de fraternidade. Todos querem colaborar. O slogan “Força Chape” ainda faz milhares de
pessoas refletirem sobre a vulnerabilidade do ser humano.
No momento de uma grande tragédia a esperança de um
mundo melhor se renova, pois a sociedade toda se transforma na direção de um
bem maior.
Ao lado das grandes tragédias, temos à nossa volta milhares
de tragédias particulares: famílias destruídas, crianças sem escola, mães desempregadas,
etc.
Muitos alardeiam o bem que fazem a estes desamparados,
só para serem louvados pelos homens. Estes, porém, já se pagaram a si mesmos! “Já
receberam a sua recompensa” (Mateus
6,2).
Mas há os infortúnios ocultos, de indivíduos que
sofrem sem que ninguém venha pedir por eles. E que só os corações caridosos e
solidários os descobrem! E que os socorrem sem qualquer ostentação, sem ferir o
amor-próprio, nem a dignidade dos beneficiados. Procuram fazer o bem pelo bem,
sem pensar em mais nada, sendo indulgentes e habilidosos para que a sua ajuda não
pareça uma humilhante esmola, que melindra o necessitado. Prestam serviços por
amor ao próximo, como Jesus ensinou: “Que a mão esquerda não saiba o que faz a
direita” (Mateus 6,3).
Sobre esses infortúnios ocultos há uma história muito
interessante, do Evangelho Segundo o Espiritismo, que adaptamos e reproduzimos,
a seguir.
Uma senhora de ar distinto, trajes simples, seguida de
uma jovem, chega a um casebre, onde já são conhecidas, sobe até a água-furtada e
bate à porta, sendo saudadas com muito respeito:
− Bom dia! Podem entrar.
Ali vive uma mãe de família, rodeada pelos filhos pequenos.
À chegada dessa senhora é só alegria! É que ela vem acalmá-los de todas as suas
dores. Traz o necessário, acompanhado de suaves e consoladoras palavras, que
fazem aceitar a ajuda sem constrangimentos. O pai está no hospital, e durante
esse tempo a mãe não pode suprir as necessidades.
Graças a ela, essas crianças não sofrerão nem frio nem
fome; irão à escola suficientemente agasalhadas e no seio da mãe não faltará o
leite para o bebê. Dali seguirá para o hospital; vai tranquilizar o pai quanto
à sorte da família.
Na esquina, seu carro a espera, verdadeiro depósito de
tudo o que vai levar aos protegidos. Não lhes pergunta pela crença, porque,
para ela, todos os homens são irmãos e filhos de Deus.
Finda a visita, ela diz a si mesma: comecei bem o meu
dia!
Qual o nome dessa senhora? Onde mora? Ninguém sabe. Para
os infelizes, tem um nome que não revela a ninguém, mas é o ANJO DA CONSOLAÇÃO.
E, à noite, um concerto de bênçãos se eleva por ela ao Criador: todos a
bendizem.
Por que se veste tão simplesmente? Para não ferir a
miséria com o seu luxo. Por que se faz acompanhar da filha adolescente? Para
lhe ensinar como se deve praticar a beneficência.
A filha também quer fazer a caridade, mas a mãe lhe
diz:
− Que podes dar minha filha, se nada tens de seu? Se lhe
entrego alguma coisa para dar aos outros, que mérito terá? Serei eu, na
verdade, quem fará a caridade, e você quem terá o mérito? Isso não é justo.
Quando formos visitar os doentes, ajudar-me-ás a cuidar deles, pois dar-lhes
cuidados é dar alguma coisa. Isso não lhe parece suficiente? Nada mais simples:
aprenda costurar, e assim confeccionarás roupinhas para essas crianças, podendo
dar-lhes alguma coisa de si mesma.
É assim que ela verdadeiramente cristã vai formando
sua filha na prática das virtudes ensinadas pelo Cristo. Sua religião? Que
importa?
Para o meio em que vive, é a mulher do mundo, pois sua
posição o exige; não ignoram o que ela faz, mesmo porque não lhe interessa
outra aprovação que a de Deus e da sua própria consciência. Um dia, porém, uma
circunstância imprevista leva à sua casa uma de suas protegidas, para lhe
oferecer trabalhos manuais.
− Psiu! – disse-lhe ela –, não contes a ninguém! –
Assim falava Jesus.
"[...] A tua esmola se fará em segredo; e teu
Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á" (Mateus 6,4).
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