“Deus fez o homem para viver
em sociedade”
Outrora, aos domingos, no Bar do Medrado, na Praça
Coronel Jordão, em Itararé, sempre tinha música ao vivo. Os melhores músicos da
cidade ali se apresentavam. E uma melodia que eu lá ouvia e aprecio muito é a do
“Cidadão”.
É uma melodia que tem um dizer muito bem bolado e
moderno, porque se relaciona com a problemática atual da inclusão social e
cidadania.
E cidadania é coisa séria! Pois o homem precisa se
enxergar como um ser social para poder olhar criticamente a sociedade e ajudar
no seu progresso.
Temos uma dívida social acumulada, e para minimizá-la
devem ser desenvolvidas ações de cidadania nas áreas de saúde, habitação,
cultura, esporte, promoção de igualdade racial, valorização da mulher e na
educação.
O CEAMI – Centro Educacional de Apoio Multidisciplinar
de Itararé foi um bom exemplo de Inclusão Social, que infelizmente foi
desativado.
Todavia, revolta a gente ouvir, de vez em quando, que
um aluno foi expulso de escola pública. Ou saber que o problema é tratado de
forma paliativa, “empurrando com a
barriga”, mudando o aluno para outra classe, depois pra outra,
sucessivamente, até arranjar uma transferência compulsória; criando no aluno o
trauma da rejeição: porta de entrada para a delinqüência juvenil.
A gente sabe que o problema da evasão ou indisciplina
está muito mais na escola do que no aluno. Pois, geralmente se trata de criança
pobre, de vila, carente de tudo, que mais precisa de carinho e de uma pedagogia
de amor, que contemple um bom projeto de inclusão social.
A música é um excelente projeto nessa área social, que
deveria ser valorizada politicamente no nosso município. Assim como o esporte,
o teatro e a dança.
A Lei 13.146/15, Lei Brasileira de Inclusão (LBI), em
vigor desde 2016, foi uma grata notícia para os 45 milhões de brasileiros com
algum grau de deficiência. Entre os avanços garantidos por essa lei está um
sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades de ensino; bem
como a adoção de um projeto pedagógico nas escolas que institucionalize o
atendimento educacional especializado, com fornecimento de profissionais de
apoio.
Deveria ter também uma lei municipal da inclusão
obrigando a música e o esporte competitivo no currículo escolar, proibindo
escola pública de expulsar aluno e punindo os responsáveis pela exclusão
social. Pois Escola deve ser espaço de solução para os problemas sociais e não
de complicação!
Por isso, registro aqui, em prosa, a música “Cidadão”,
de autoria de Lúcio Barbosa, verdadeiro hino da inclusão social. Preste atenção
na letra!
Tá vendo aquele edifício, moço? Ajudei a levantar!
Foi um tempo de aflição; era quatro condução (sic); duas pra ir, duas pra voltar. Hoje depois
dele pronto “óio” pra cima e fico tonto, mas me chega um cidadão; e me diz
desconfiado:
– Tu “taí” admirado ou tá querendo roubar?
Meu domingo tá perdido. Vou pra casa entristecido; dá
vontade de beber. E pra aumentar o meu tédio eu nem posso “oiá” pro prédio que
ajudei a fazer.
Tá vendo aquele colégio moço? É... Eu também
“trabaiei” lá!
Lá eu quase me
arrebento; fiz a massa, pus cimento, ajudei a rebocar. Minha “fia” inocente vem
pra mim toda contente:
– Pai, vou me matricular.
Mas, me diz um cidadão:
– Criança de pé no chão aqui não pode estudar!
Essa dor doeu mais forte! Por que qu’eu deixei o
Norte? Eu me pus a me dizer: lá a seca castigava, mas o pouco que eu plantava
tinha direito a comer.
Tá vendo aquela igreja, moço? Onde o padre diz: amém!
Pus o sino e o badalo; enchi minha mão de calo; lá eu
“trabaiei” também. Lá sim valeu a pena; tem quermesse, tem novena e o padre me
deixa entrar. Foi lá que Cristo me disse:
– Meu rapaz deixe de tolice. Não se pode amedrontar.
Fui eu quem criou a terra; enchi o rio, fiz a serra; não deixei nada faltar.
Hoje o homem criou asas e na maioria das casas eu também não posso entrar.
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