“Quando
a parede racha, não adianta tentar consertá-la, a fenda permanece”. (Ghandi).
Eis o noticiário diário da tevê: crise, grampos,
irregularidades, ilegalidades, fraudes, casos de negociatas, “cartas marcadas” em licitações, “laranjas”, empresas de fachadas,
lavagem de dinheiro, corrupção, máfias, paraíso fiscal, maracutaias, furtos, ladroagem,
tráfico, contrabando, drogas, sonegação, nepotismo, propinas, escândalo dos
bingos, dólares na cueca, mensalão, mensalinho, operação Lava Jato, escândalo
da Petrobrás, CPI, invasões de propriedade, “golpismo”,
etc.
Diante de tanta lama, me incorpora a indignação de Rui
Barbosa – “a Águia de Haia” –: “De tanto ver triunfar a nulidade; de tanto
ver prosperar a desonra; de tanto ver crescer a injustiça; de tanto ver
agigantar-se os poderes nas mãos dos maus; o homem chega a desanimar-se da
virtude; a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.
A vergonha é um sentimento
de angústia, de humilhação e remorso, de dor intensa na alma, quando temos a percepção
de ter feito algo errado.
Judas, quando percebeu o
erro de sua traição, de vergonha se suicidou. Será que os nossos governantes e
os representantes do povo se sentem envergonhados por todos esses escândalos?
Parece que não! A maioria
nem sabe o que é sentir vergonha! E pela falta do senso de vergonha vão se
perder com os escândalos e outras sem-vergonhices!
“Meter em
brios” era o modo de meu saudoso pai
me chacoalhar para agir com dignidade e zelar pela própria reputação. Era um “puxão de orelha” para me mostrar que a
falta de brio leva à desonra, à humilhação, ao ridículo. Quem tem brios tem vergonha
na cara! – dizia-me ele. Então aprendi que sentir vergonha é uma
questão de formação do ser humano.
E a sem-vergonhice como é que fica?
Que me perdoe o Rui, mas não quero me desanimar da
virtude! Na vida, a virtude é fundamental! E vou responder essa questão valendo-me
de um conto polonês sobre UMA FESTA NO CÉU.
Certo dia, o Criador lembrou-se de festejar todas as
virtudes nos seus palácios azuis. Mas, Ele só convidou as damas, os cavalheiros
não.
Compareceu então um grande número delas. As pequenas
virtudes eram mais afáveis e corteses do que as grandes, mas todas conversavam
amavelmente, como deve acontecer entre pessoas íntimas e aparentadas.
Em dado momento, o Eterno notou duas belas damas que
pareciam desconhecidas uma da outra. Levou uma na presença da outra e disse:
– Apresento-lhe a Beneficência, disse Ele,
designando a primeira; apresento-lhe a Gratidão, ajuntou, indicando a
outra.
As duas virtudes ficaram pasmadas, pois desde que o
mundo é mundo, era a primeira vez que se encontravam.
Encerrada a festa, a orquestra Angélica entoou
belíssima harmonia e as convidadas respeitosamente despediram-se, repetindo
seus nomes e oferecendo suas residências.
Assim, a Fé declarou que sua morada era nas
almas grandes e nos corações firmes; a Caridade disse que vivia no seio
das pessoas praticantes da Beneficência: sua irmã gêmea; a Honra
indicou sua moradia no peito dos bravos, no coração das virgens, na fronte dos
homens de bem e das mulheres honestas; a Esperança declarou ser
encontrada em todos os lugares onde não houvesse passado seu pior inimigo: o Desengano; a Abnegação
declarou residir onde não houvesse o Interesse;
a Consciência disse que morava juntamente com a Fé... Deste modo,
cada virtude foi fazendo sua despedida, declarando aonde podia ser encontrada.
Entretanto, uma virtude sem resolver sair, estava
triste, cabisbaixa, sentada a um canto, com os olhos banhados em lágrimas! Era
a Vergonha.
Penalizada, a Honra aproximou-se dela e
perguntou-lhe:
– Por que está assim? A festa já terminou e é preciso
que as convidadas se retirem. Abraça-me e dize-me onde a posso encontrar.
– Eis aí a razão do meu abatimento e da minha tristeza
– respondeu a Vergonha. – As minhas amigas, quando se separaram,
designaram suas moradas, ao passo que eu, com profundo pesar, só lhes posso
dizer o seguinte: quem me perder uma vez, nunca mais me encontrará!
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