“Eu vim lançar fogo à Terra; e o que
mais desejo senão que ele se acenda?” (Jesus).
Será que Jesus, a personificação da bondade, teria dito que veio lançar fogo
à Terra? E mais ainda, que tinha pressa que esse fogo se acendesse? – de acordo
com Lucas 12,49.
Será que Ele teria dito também: “Julgais que vim trazer paz à terra? Não,
digo-vos, mas separação” (Lucas 12,51).
Estas palavras escritas por Lucas, assim
como grande parte do capítulo 12 de seu evangelho, não estariam em contradição
com os ensinamentos de Jesus?... Não
seriam blasfêmias?...
Não,
certamente que não! Não há blasfêmia
nem contradição, mas a mais alta sabedoria, pois Jesus não poderia contradizer-se. E sua missão era pacífica. Apenas
a forma de dizer causa estranheza, por
não expressar exatamente o seu pensamento.
Na interpretação dos textos sagrados
temos, além da leitura literal, ainda
a interpretação alegórica (insinuação),
dos ensinamentos.
Jesus
sabia que seus ensinamentos iriam
atear fogo à Terra, pois iriam modificar a maneira de pensar das pessoas. Pois
toda ideia nova encontra resistência, oposição, e nenhuma há que se implante
sem lutas!...
Jesus
falava sobre a necessidade de
transformação interior das pessoas. E sabemos que esse processo de mudanças se
dá pelo AMOR ou pela DOR. E no caso
de ocorrer pela DOR, a mudança se dá
pelo fogo do arrependimento, do remorso, do peso de consciência, do sofrimento
físico, provocado pelos embates dentro da sociedade e, principalmente, na
interação familiar.
O
fogo do cristianismo explode em nós uma nova pessoa, totalmente diferente, capaz de servir, amar e
perdoar.
É o nosso Despertar de Consciência! O
qual se dá pela renovação do nosso Espírito Imortal.
“A
Pipoca” – texto de Rubem Braga, que
transcrevo a seguir – talvez expresse bem esse pensamento do Mestre.
A
transformação do milho duro em pipoca macia é o símbolo da grande transformação
por que devem passar os homens.
O
milho de pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois
do estouro. O milho somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer. Mas
a transformação só acontece pelo poder do fogo.
Milho
de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre. Assim
acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo
fogo.
Quem
não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma
mesmice e uma dureza assombrosa. Só elas não percebem. Acham que o seu jeito de
ser é o melhor jeito de ser.
Mas,
de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que
nunca imaginamos − Dor.
Pode
ser o fogo de fora: perder um amor, um filho, um amigo ou o emprego. Pode ser o
fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, doenças e sofrimentos cujas
causas ignoramos. Há sempre o recurso do remédio, uma maneira de apagar o fogo.
Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande
transformação.
Imagino
que a pipoca dentro da panela, ficando cada vez mais quente, pensa que a sua
hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não
consegue imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está
sendo preparada.
A
pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí vem sem aviso prévio, pelo
poder do fogo, a grande transformação que acontece: BUM! E ela aparece completamente diferente, como nunca havia
sonhado.
Piruá
é o milho que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o
fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais
maravilhosa do que o jeito delas ser. A sua presunção e o medo é a dura casca
que não estoura.
O
destino delas é triste. Elas ficarão duras a vida inteira. Não vão se
transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria para ninguém.
Terminado
o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem
para nada. Seu destino é o lixo.
E você, o que é? Uma pipoca estourada,
ou um piruá?