Aquecendo a Vida

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Radio

sábado, 7 de dezembro de 2019

NÃO DOU NADA!


“Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados.” (Mahatma Gandhi).


Eram dois amigos de aperitivos num barzinho de Itararé. O mais velho era Fabricante de caixões-de-defunto e o outro um conhecido Carteiro.
O Fabricante tinha um irmão que precisava urgentemente da doação de um fígado. Por isso, sempre que ele se encontrava com seu amigo Carteiro – lá no barzinho –, reclamava da dificuldade de se encontrar um doador de órgãos.
Passou o tempo, e um dia, num acidente de carro, faleceu o filho do Carteiro. Imediatamente ele saiu procurando o amigo das urnas funerárias.
Quando este soube que o Carteiro o estava procurando, se destemperou:
“Eu não vou doar caixão pra ninguém! Esse Carteiro que compre um, se quiser dar um enterro digno ao seu filho. Estou cansado de gente pedindo caixão de graça! Por mim que se lasque! NÃO DOU NADA!”.
Dali a pouco o Carteiro, na sua bicicleta e uniformizado, boné na cabeça, suado, aparece no barzinho e saúda alegremente o amigo da funerária, que acabava de fazer os referidos comentários.
– Oi Zé! Posso falar com você?
– Eu já falei pra eles aqui, que não tenho nenhum caixão...
– Espere aí! Não é sobre isso que eu quero falar...
– Então, desembuche logo, que estou com pressa.
– Sabe Zé, você se lembra das vezes que me falava do seu irmão que precisava fazer um transplante?
– Lembro sim. – Ele respondeu já meio desenxabido.
– Pois eu vim oferecer ao seu irmão o fígado do meu filho, que acabou de falecer num acidente automobilístico. Será que vocês aceitam?
– Oh, Sim! Com o maior prazer! Puxa vida! Obrigado amigo...
Não é preciso descrever a vergonha do Fabricante de caixões-de-defunto, perante seus amigos do barzinho! E que lição de vida deu o Carteiro!
Essa é uma história real de Itararé (com personagens fictícios, é claro!), e que leva a gente a fazer uma profunda reflexão sobre nossos preconceitos (pré-conceitos), que são idéias formuladas antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimentos dos fatos.
A idéia preconcebida é própria de gente egoísta, que julga os outros por si mesmo, como se estivesse na frente de um espelho. Pessoas assim são incapazes de um gesto de altruísmo.
O julgamento precipitado pode nos causar sérios aborrecimentos; pois, pela lei divina do retorno, será aplicado a nós com a mesma severidade.
O preconceito é um mal dos tempos atuais, que tende a desaparecer do planeta, pois retarda o progresso moral da humanidade.
Veja, por exemplo, a questão dos transplantes de órgãos. Quanta ideia preconcebida em relação à doação de órgãos! E essa questão da escassez de órgãos para transplantes somente será resolvida através de um intenso esforço de educação de toda a sociedade.
Todo ano, em comemoração ao dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos, 27 de setembro, o governo faz campanhas; todavia, elas não podem ficar restritas apenas a um período de conscientização. É um processo de longo prazo, que deve ser iniciado nas escolas. Pois é um exercício de cidadania.
Despertando a curiosidade de muita gente, há muitos anos uma voz macia e aveludada invade os corredores dos aeroportos brasileiros para divulgar o Disque Transplante no rádio: “Atenção passageiros com destino à outra dimensão, informamos que em sua definitiva viagem itens como coração, fígado, olhos e demais órgãos são desnecessários. Para doá-los ligue: 0800 8832323. Doe seus órgãos!”.
Pense nisso! Não deixe para entender só quando acontecer com você! Diga que você é DOADOR DE ÓRGÃOS. Pois esta é a maior manifestação de amor que você pode dar. Mas antes converse com sua família sobre isso.
As coisas mais importantes precisam ser ditas em vida!  Como disse certa vez João Ubaldo Ribeiro: “Nenhum de nós pode considerar-se livre da possibilidade de precisar de um órgão transplantado, o destino aponta para qualquer um”.

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