“Dás sem medida e receberás
sem medida”
Um Sábio ouvira falar de um Eremita que tinha fama de
santo. Comentava-se que o Eremita vivia só, há mais de vinte anos, em um lugar
ermo, no alto de uma montanha, por penitência.
O Sábio resolveu procurá-lo. E quando chegou à sua
morada, o velho Eremita perguntou-lhe:
− De onde você vem?
− Venho de onde apontam minhas costas e vou para onde
está voltado o meu rosto. Um santo deveria saber disso! – desafiou o Sábio, com
ar irônico.
Diante da provocação, o Eremita não se conteve e
retrucou:
− Mas, que resposta tola e sem nexo!
O Sábio, não se importando com a resposta, mas querendo
saber mais sobre a vida do ancião, perguntou-lhe:
− E o senhor, o que faz?
− Eu faço penitência: jejuo sempre; carrego um cordão
de crina de cabra sobre a pele como forma de mortificação contra as más
inclinações; medito há anos sobre a perfeição da paciência e estou perto de ser
considerado santo.
O Sábio, para irritar o Eremita, disse:
− As pessoas acham que você já se transformou no que desejava.
− Porque você conseguiu enganar o mundo!
Furioso, agora, o Eremita se levantou e, aos gritos,
retrucou:
− Como ousa perturbar um homem que busca a santidade?
− Ainda falta muito para você chegar a ser santo! –
disse o Sábio. – Se uma simples brincadeira o faz perder a paciência, que você
tanto busca encontrar, acho que toda a sua penitência, foi uma completa perda
de tempo!
Há algumas pessoas que entendem que há méritos em
procurar aflições. Pois, Jesus disse: “Bem-aventurados
os aflitos”. Então, inventam sacrifícios voluntários, que na maioria das
vezes apenas agravam mais as suas provas. Não se contentam com as provas que
Deus lhes deu e exageram nas penitências!
E há aqueles que se escondem no isolamento,
preocupados apenas em se preservar de qualquer pecado. Onde está a coragem que
Deus lhe deu para enfrentar as agruras da vida?
Deus quer ver você sendo vitorioso, vencendo todas as dificuldades
da vida, e não como mero desertor do combate.
Deus não quer que você enfraqueça o seu corpo com
privações inúteis. Isso é suicídio. E traz severas punições pela lei de causa e
efeito.
A prática do cilício (cordão de crina sobre a pele,
para mortificação do corpo) também não é uma prática saudável e muito menos
cristã.
Ah! Mas o cilício não é uma luta contra as nossas más
inclinações para submetê-las à lei de Deus?
Embora o cilício seja uma prática que pertença ao
patrimônio espiritual da fé mais ortodoxa, isso não santifica o praticante
dessa penitência! Não passa, pois, de alienação da verdadeira “dor cristã” ensinada nas
bem-aventuranças do evangelho de Jesus.
“Vinde a mim,
vós todos que estais aflitos, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28).
Há, portanto, uma promessa de recompensa na vida
espiritual, aos que sofrem. Mas, só serão “bem-aventurados
os aflitos” que aceitam suas provas com resignação, paciência, calma, sem
queixas, nem blasfêmias e com muita fé.
Daí entender-se que as provas que Deus lhes deu são
suficientes para recompensá-los no reino dos céus.
No entanto, se o sofrimento tem por fim o bem próprio,
não há mérito. Trata-se apenas de egoísmo pelo fanatismo. Pois, somente há
mérito nas aflições e privações que têm por fim o bem do próximo. Porque assim
é fazer Caridade! E fora da Caridade não
há salvação!
Suportar frio, agasalhar e suportar fome para
alimentar os mais necessitados são sacrifícios abençoados por Deus.
Que importa que seu corpo sofra, quando você leva
consolação aos corações que sofrem! Que importa que suas mãos se sujem para
aliviar as chagas da dor alheia! Que importa o sacrifício do sono para velar
por um irmão doente!
Quando utilizamos a saúde do nosso corpo para a
prática das boas obras de amor, recebemos em troca as alegrias dos anjos, que
iluminam nossa alma e nos faz derramar lágrimas de felicidade...
Este é o verdadeiro CILÍCIO DE BENÇÃOS, que atestará a
vossa coragem e sua submissão aos desígnios de Deus.
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