Aquecendo a Vida

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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

A PONTE ENTRE DAR E RECEBER

“Se queres receber deves primeiro dar: eis o início da inteligência” (Tau-te-king)



Por que certas pessoas reclamam mesmo quando recebem tudo de graça, sem pagar nada? Já pensou nisso?  
Para refletir sobre estas questões, veja a história, a seguir, relatada no livro “Trapeiros de Emaús”, de Boris Simon.
Um padre de uma comunidade iniciada para pessoas Sem-Teto, quando menino costumava acompanhar seu pai, um dia por mês, no atendimento fraterno às pessoas carentes.
O pai era médico, mas como já havia quem atendesse às pessoas nesse setor, ele se dedicava a cortar cabelos, profissão que também exercera.
O menino percebia que embora seu pai executasse seu serviço de graça e com amor, as pessoas reclamavam muito. Exigiam tal ou tal corte e às vezes quando iam embora, xingavam o pai porque não haviam gostado do corte.
Mas o pai tinha paciência infinita, tentava atender ao que lhe pediam e jamais revidava às ofensas, chegando até mesmo a pedir desculpas, quando alguém não gostava do trabalho que ele realizara.
Então, um dia, o menino pergunta:
− Pai, por que o senhor age sempre assim? Por que as pessoas reclamam de algo que recebem de graça, e que não teriam de outra forma?
− Para essas pessoas – disse o pai –, receber é muito difícil. Elas se sentem humilhadas porque recebem sem dar nada em troca. Por isso elas reclamam, é uma maneira de manterem a autoestima, de deixar claro que ainda conservam a própria dignidade.
Esta história ajuda a gente entender a ponte que existe entre “Dar e Receber”.
Quando, de alguma forma, ajudamos ou damos alguma coisa para uma pessoa necessitada, teoricamente, estamos em posição de superioridade. Isso faz bem ao nosso ego, tanto que às vezes tendemos a não dar importância à maneira como essa ajuda é dada. Mas, se somos nós a receber, nos sentimos diminuídos ou recebemos como se aquilo fosse devido.
Entre Dar e Receber há uma ponte energética de mão dupla de direção: a da generosidade (energia de ida – de quem dá) e a da gratidão (energia de retorno).
E quantas vezes fazemos dessa ponte uma via de mão única?
Às vezes doamos com uma generosidade aparente, guardando no fundo da alma um sentimento de superioridade; ou esperando da outra parte uma eterna gratidão.
Aquele que faz o Bem apenas por ostentação, para receber aplausos e reconhecimento público, segundo o texto sagrado “já receberam sua recompensa”. O mérito consiste, pois, “que a mão esquerda não saiba o que faz a direita”.
O Benefício deve ser disfarçado para respeitar os sentimentos do beneficiado, não o humilhando, não ferindo seu amor-próprio. Isso é Caridade!
E às vezes recusamos receber, por orgulho ou porque temos vergonha de mostrar nossa fragilidade aos olhos dos outros. E quantas vezes não somos aquele que tudo recebe, sem nada dar em troca, convencidos de nosso direito a isso!...
Esta é a Lei: Dar com generosidade e Receber com gratidão.
Os prazeres dessa relação é que dão as premissas da felicidade, reservada no mundo espiritual a todos que praticam as lições do amor e da benevolência.
Dizem os poetas, que “dar sem receber é impossível...”; pois a vida é um eco, lhe devolvendo tudo o que você dá. Vivemos sob a Lei da Reciprocidade. E esta grande Lei da Criação diz: que somente no DAR é que também pode residir o verdadeiro RECEBER.
O segredo então é dar antes de receber. Um dia volta pra você...
"Em tudo vos tenho mostrado que assim, trabalhando, convém acudir os fracos e lembrar-se das palavras do Senhor Jesus, porquanto ele mesmo disse: É maior felicidade dar que receber!" (At 20,35).
Dar é o primeiro passo de entrada ao portal da Caridade. E a Caridade, diz Kardec, “é a fonte de todas as virtudes”. Porque a Caridade, no sentido tal como Jesus a entendia, significa “Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições alheias, perdão às ofensas” (questão 886, do Livro dos Espíritos).
E sabemos que “Fora da Caridade não há Salvação”.
"Eis que venho em breve, e a minha recompensa está comigo, para dar a cada um conforme as suas obras". (Ap 22,12)

“Dar sem esperar nada em troca e receber sem sentir a obrigação de retribuir é a nossa única salvação...”, disse o escritor Miguel Esteves Cardoso.

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