“Se
queres receber deves primeiro dar: eis o início da inteligência” (Tau-te-king)
Por que certas pessoas reclamam mesmo quando recebem
tudo de graça, sem pagar nada? Já pensou nisso?
Para refletir sobre estas questões, veja a história, a
seguir, relatada no livro “Trapeiros de
Emaús”, de Boris Simon.
Um padre de uma comunidade iniciada para pessoas Sem-Teto, quando menino costumava acompanhar seu
pai, um dia por mês, no atendimento fraterno às pessoas carentes.
O pai era médico, mas como já havia quem atendesse às
pessoas nesse setor, ele se dedicava a cortar cabelos, profissão que também
exercera.
O menino percebia que embora seu pai executasse seu
serviço de graça e com amor, as pessoas reclamavam muito. Exigiam tal ou tal
corte e às vezes quando iam embora, xingavam o pai porque não haviam gostado do
corte.
Mas o pai tinha paciência infinita, tentava atender ao
que lhe pediam e jamais revidava às ofensas, chegando até mesmo a pedir
desculpas, quando alguém não gostava do trabalho que ele realizara.
Então, um dia, o menino pergunta:
− Pai, por que o senhor age sempre assim? Por que as
pessoas reclamam de algo que recebem de graça, e que não teriam de outra forma?
− Para essas pessoas – disse o pai –, receber é muito
difícil. Elas se sentem humilhadas porque recebem sem dar nada em troca. Por
isso elas reclamam, é uma maneira de manterem a autoestima, de deixar claro que
ainda conservam a própria dignidade.
Esta história ajuda a gente entender a ponte que
existe entre “Dar e Receber”.
Quando, de alguma forma, ajudamos ou damos alguma
coisa para uma pessoa necessitada, teoricamente, estamos em posição de
superioridade. Isso faz bem ao nosso ego, tanto que às vezes tendemos a não dar
importância à maneira como essa ajuda é dada. Mas, se somos nós a receber, nos
sentimos diminuídos ou recebemos como se aquilo fosse devido.
Entre Dar e Receber há uma ponte energética de mão
dupla de direção: a da generosidade
(energia de ida – de quem dá) e a da gratidão
(energia de retorno).
E quantas vezes fazemos dessa ponte uma via de mão
única?
Às vezes doamos com uma generosidade aparente,
guardando no fundo da alma um sentimento de superioridade; ou esperando da
outra parte uma eterna gratidão.
Aquele que faz o Bem apenas por ostentação, para
receber aplausos e reconhecimento público, segundo o texto sagrado “já receberam sua recompensa”. O mérito
consiste, pois, “que a mão esquerda não
saiba o que faz a direita”.
O Benefício deve ser disfarçado para respeitar os
sentimentos do beneficiado, não o humilhando, não ferindo seu amor-próprio.
Isso é Caridade!
E às vezes recusamos receber, por orgulho ou porque
temos vergonha de mostrar nossa fragilidade aos olhos dos outros. E quantas
vezes não somos aquele que tudo recebe, sem nada dar em troca, convencidos de
nosso direito a isso!...
Esta é a Lei: Dar
com generosidade e Receber com gratidão.
Os prazeres dessa relação é que dão as premissas da
felicidade, reservada no mundo espiritual a todos que praticam as lições do
amor e da benevolência.
Dizem os poetas, que “dar sem receber é impossível...”; pois a vida é um eco, lhe
devolvendo tudo o que você dá. Vivemos sob a Lei da Reciprocidade. E esta
grande Lei da Criação diz: que somente no DAR é que também pode residir o
verdadeiro RECEBER.
O segredo então é dar antes de receber. Um dia volta
pra você...
"Em tudo
vos tenho mostrado que assim, trabalhando, convém acudir os fracos e lembrar-se
das palavras do Senhor Jesus, porquanto ele mesmo disse: É maior felicidade dar
que receber!" (At 20,35).
Dar é o primeiro passo de entrada ao portal da Caridade.
E a Caridade, diz Kardec, “é a fonte de
todas as virtudes”. Porque a Caridade, no sentido tal como Jesus a entendia, significa “Benevolência para com
todos, indulgência para as imperfeições alheias, perdão às ofensas”
(questão 886, do Livro dos Espíritos).
E sabemos que “Fora
da Caridade não há Salvação”.
"Eis que
venho em breve, e a minha recompensa está comigo, para dar a cada um conforme
as suas obras". (Ap 22,12)
“Dar sem
esperar nada em troca e receber sem sentir a obrigação de retribuir é a nossa
única salvação...”, disse o escritor Miguel
Esteves Cardoso.
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