“O remorso é uma força preliminar para os trabalhos
reparadores”.
(Humberto de Campos).
Uma mulher vai ao seu terapeuta, que a atende
semanalmente, e entra queixando-se das agressões verbais recebidas do marido,
censurando-a por ser péssima mãe e péssima esposa. Diz sentir-se agredida e
humilhada, porque sabe ela ser ótima mãe e esposa devotada. O médico ouve-a
atentamente e quando ela encerra as reclamações, ele diz:
– Eu não me importaria com isso, mas sim, com a mancha
no seu rosto.
− Eu não tenho mancha no rosto.
− Tem sim, estou vendo.
− Não, eu não tenho! – contesta a paciente convicta.
A conversa continua com os queixumes dela. Depois de
algum tempo, ele pergunta à mulher:
− Por que você não se incomodou com a minha afirmação
de que tinha uma mancha no rosto?
− Porque sei que não tenho, diz ela.
− Eis aí – afirma o médico –, a resposta que precisava
para suas lamentações. Se as agressões do seu marido lhe fazem tanto mal e a
incomodam muito, é porque você própria não tem certeza de ser boa mãe e boa
esposa. A agressão atingiu-a, porque refletiu sua própria realidade interior.
Emmanuel nos ensina, nesta mensagem, psicografada por
Chico Xavier (com pequenas adaptações), a essência da recomendação do evangelho
de não julgarmos para não sermos julgado por nós mesmos.
Um julgamento equivocado pode nos acarretar
futuramente um profundo arrependimento.
Digo, futuramente, porque o arrependimento depende de uma maturidade
espiritual, que leva a pessoa a refletir sobre a violação de sua conduta moral,
na livre aceitação do castigo e na disposição de evitar futuras violações.
Quando o arrependimento leva a uma inquietação da
consciência pela culpa cometida, surge, então, o Bicho–da–consciência, que vai
remordendo por dentro, repetidas vezes. Cada mordida desse “bichinho” faz a pessoa se remoer. E, então, não para de ruminar,
cismar e parafusar por dentro. Isso é o remorso
– ou dor de consciência –, que deixa a mente em brasas ardentes, dando ensejo
às murmurações, que a eloquência do Evangelho denomina poeticamente de ranger de dentes.
Segundo o Livro “O Céu e o Inferno”, de Allan Kardec,
cap. VI, “O arrependimento acarreta o
pesar, o remorso, o sentimento doloroso, que é a transição do mal para o bem,
da doença moral para a saúde moral. É para se furtarem a isso que os Espíritos
perversos se revoltam contra a voz da consciência, como doentes que repelem o
remédio que os há de curar. E assim procuram iludir-se, aturdir-se e persistir
no mal”.
Quando, pois, o “Bicho
pega pra valer”, as brasas se acendem em labaredas, em fogueiras, que
atormentam o pecador, incessantemente, levando-o ao desespero e até mesmo ao
suicídio.
Chamas assim só se apagam com muitos esforços
reparadores, dores e poças de lágrimas!
E não é castigo, não! É apenas o cumprimento da Lei,
que estabelece uma reação pra cada ação que praticamos, seja ela boa ou má.
Pois, cada um colhe aquilo que plantou. “Quem
semeia vento colhe tempestade”; quem semeia ódio colhe sofrimento; e quem
semeia amor, colhe paz, alegria, felicidade...
Ciente de que progredimos e que ninguém é eternamente
condenado, é fácil entender a eficácia da prece, que contém em si mesma os
germes para essa cura.
Se “orar é amar
e amar é orar”, oremos, pois, pelos que se arrependem! Pois o arrependimento
é o prelúdio do perdão! O alívio para o sofrimento.
Da fúria do Bicho-da-consciência nem Judas Iscariotes
escapou, mesmo sendo o mais culto dos discípulos e um apaixonado pelas idéias
socialistas do Mestre. Embora zeloso pela doutrina cristã, ele fez sacrificar
seu fundador.
Judas, nestes séculos, tem sido execrado por causa de
trinta moedas de prata. Mas, certamente, conta com a misericórdia divina – que
é infinita!
No entanto, como fica a consciência dos vendilhões do
Templo sagrado, que continuam vendendo Jesus no mundo, a grosso e a retalho,
por todos os preços, em todos os padrões do ouro amoedado?!..
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