"Assim também vós: por fora pareceis justos aos
olhos dos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade" (Mateus 23: 28).
Estando Jesus em viagem, entrou numa aldeia, onde uma
mulher, chamada Marta, o recebeu em sua casa. Tinha ela uma irmã por nome
Maria, que se assentou aos pés do Senhor para ouvi-lo falar. Marta, toda
preocupada na lida da casa, veio a Jesus e disse:
− Senhor, não te importas que minha irmã me deixe só a
servir? Dize-lhe que me ajude.
Respondeu-lhe o Senhor:
− Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas
com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a boa parte, que lhe não será tirada.
Esse diálogo do evangelho de Lucas – capítulo 10,
versículos 38 a 42 –, requer alguns questionamentos para sua melhor
compreensão: “Qual é a única coisa
necessária? Qual é a boa parte da vida? Existe uma parte que não é boa?”.
Quando Jesus diz que uma só coisa é necessária, está
se referindo à nossa evolução moral. Essa é a boa parte da vida escolhida por Maria e que não lhe será tirada,
porque é eterna.
As preocupações do cotidiano, como as de Marta,
terminam com a morte do corpo. Por isso, elas não são consideradas pelo Mestre
como uma boa parte!
A boa parte
é aquela, pois, que liberta a criatura das paixões humanas – estreitos grilhões
que se enroscam na carne. É a que prepara para se viver na pátria eterna, além
da morte do corpo.
Diz Paulo na primeira epístola a Timóteo, capítulo 1,
versículo 15: "Eis uma verdade
absolutamente certa e merecedora de fé: Jesus Cristo veio a este mundo para
salvar os pecadores, dos quais sou eu o primeiro".
Se Paulo se considerava um pecador o que se dirá dos
demais? Todos nós temos iniquidades a vencer! Por isso que viver é uma
atividade pedagógica.
A vida cristã é uma batalha. Estamos, pois no mundo
para aprender a superar nossos defeitos e progredir moralmente. Esta é a “boa
parte” a que o Senhor se refere, a qual implica em mudanças,
transformações... São lutas da alma, encarcerada no corpo físico, que precisa
se renovar interiormente para seguir o caminho do Bem, da Justiça, do Amor...
Mas contra quem lutamos?
Um Ermitão, que vivia na solidão por amor a Deus, para
dedicar-se somente à oração e à penitência, muitas vezes reclamava que tinha muito
que fazer...
Perguntaram-lhe como era possível que na sua solidão,
tivesse tanto trabalho.
− Tenho que domar dois falcões, treinar duas águias,
manter quietos dois coelhos, vigiar uma serpente, carregar um asno e sujeitar
um leão.
− Não vemos nenhum animal perto de onde vives. Onde
estão estes animais?
O Ermitão então explicou:
− Estes animais, todos os homens têm. Vocês também os
têm!
Os dois falcões se lançam sobre tudo o que aparece,
seja bom ou mau! Tenho que domá-los para que só se fixem sobre “uma” boa presa!
São os MEUS OLHOS!
As duas águias, ferem e destroçam com suas garras.
Tenho que treiná-las para que sejam úteis e ajudem sem ferir. São as MINHAS
MÃOS!
Os dois coelhos, querem ir aonde lhes agrada. Fugindo
dos demais e esquivando-se das dificuldades... Tenho que ensinar-lhes a ficarem
quietos, mesmo que seja penoso, problemático, ou desagradável. São os MEUS PÉS!
O mais difícil é vigiar a serpente. Apesar de estar
presa numa jaula de 32 barras, mas se abre a janela, está sempre pronta para
morder e envenenar os que a rodeiam. Se não as vigio de perto causa danos. É a
MINHA LÍNGUA!
O burro é muito obstinado, não quer cumprir com suas
obrigações. Alega estar cansado e se recusa a transportar a carga de cada dia.
É o MEU CORPO!
Finalmente, preciso sujeitar o leão... Ele sempre quer
ser o rei, o mais importante. É vaidoso e orgulhoso! É o MEU CORAÇÃO!
Portanto, há muito que se fazer! Aprendamos a visitar
diariamente as jaulas do nosso zoológico para domar as feras que habitam em
nós, pois não adianta ignorá-las!
"É por isso que não desfalecemos. Ainda que
exteriormente se desconjunte nosso homem exterior, nosso interior renova-se de
dia para dia" (2 Cor 4: 16).
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