“Como é perigoso libertar um povo que prefere
a escravidão!” (Maquiavel).
Jesus certa vez proclamou à humanidade: “Conhecereis
a Verdade e a Verdade vos libertará” (João 8,32).
Pensando nessa célebre frase, eis, a seguir, nossa breve
resenha de uma lenda egípcia publicada no Livro “Libertação” de André Luiz,
psicografado pelo médium Chico Xavier.
Num jardim havia
grande lago que escoava suas águas, do outro lado, através de grade muito
estreita. Nesse reduto vivia toda uma comunidade de peixes, a se refestelarem
em complicadas locas. Elegeram rei um dos concidadãos e ali viviam,
despreocupados, entre a gula e a preguiça.
Junto deles
havia um peixinho vermelho,
menosprezado de todos. Não conseguia pescar a mais leve larva. Por isso, sofria
e era visto em correria constante, perseguido ou atormentado de fome. O
pobrezinho não dispunha de tempo para muito lazer e começou a estudar com
bastante interesse.
Fez o
inventário de todos os ladrilhos do poço, arrolou os buracos nele existentes,
sabia onde se reunia a maior massa de lama por ocasião de aguaceiros e
encontrou a grade do escoadouro. Então, refletiu consigo:
— Não será
melhor pesquisar a vida e conhecer outros rumos?
Avançou então, otimista, pelo rego d’água, embriagado de esperança...
Em breve, alcançou grande rio e fez inúmeros conhecimentos. Conseguiu atingir o
oceano, ébrio de novidade e sedento de estudo.
Plenamente
transformado em suas concepções do mundo, passou a reparar as infinitas
riquezas da vida. Vivia, agora, sorridente e calmo, no Palácio de Coral, com
centenas de amigos, quando, ao se referir ao seu começo laborioso, veio, a
saber, que somente no mar as criaturas aquáticas dispunham de mais sólida
garantia, de vez que, quando o estio se fizesse mais arrasador, as águas de
outra altitude continuariam a correr para o oceano.
O peixinho
pensou, pensou..., e sentindo imensa compaixão daqueles com quem convivera na
infância, deliberou consagrar-se à obra de salvação deles. Não seria justo
regressar e anunciar-lhe a verdade? Não hesitou.
Tornou ao rio,
do rio dirigiu-se aos regatos e dos regatos se encaminhou para os canaizinhos
que o conduziram ao primitivo lar. Procurou os velhos companheiros. Supôs que o
seu regresso causasse surpresa e entusiasmo gerais. Ao contrário, os peixes
continuavam pesados e ociosos, repimpados nos mesmos ninhos lodacentos,
protegidos por flores de lótus, de onde saíam apenas para disputar larvas,
moscas ou minhocas desprezíveis.
Gritou que
voltara, mas não houve quem lhe prestasse atenção! Ridicularizado, procurou,
então, o rei e comunicou-lhe a reveladora aventura. O soberano reuniu o povo e
permitiu que o mensageiro se explicasse.
Esclareceu
então que havia outro mundo glorioso e sem fim. Aquele poço era uma
insignificância que podia desaparecer, de momento para outro. Lá fora, corriam
regatos, rios caudalosos e o mar, onde a vida aparece cada vez mais
surpreendente. Descreveu o serviço de tainhas e deu notícias do peixe-lua.
Contou que vira o céu repleto de astros e que descobrira árvores gigantescas,
barcos, cidades praieiras, jardins submersos, estrelas do oceano e ofereceu-se
para conduzi-los ao Palácio de Coral, onde viveriam todos, prósperos e
tranqüilos. Finalmente os informou de que semelhante felicidade, porém, tinha
igualmente seu preço. Deveriam emagrecer convenientemente e trabalhar e estudar
tanto quanto era necessário à venturosa jornada.
Assim que
terminou, gargalhadas coroaram-lhe a preleção. Ninguém acreditou nele. Alguns
oradores tomaram a palavra e afirmaram solene, que o peixinho vermelho delirava; aquilo era mera fantasia de cérebro
demente e alguns chegaram a declarar que falavam em nome do Deus dos Peixes.
O soberano,
para melhor ironizá-lo, dirigiu-se até à grade de escoamento e, tentando, de
longe, a travessia, exclamou borbulhante:
— “Não vês que não cabe aqui nem uma só de
minhas barbatanas? Grande tolo! Vai-te daqui! Não nos perturbe o bem-estar...
Nosso lago é o centro do Universo... Ninguém possui vida igual à nossa!...”.
Expulso a
golpes de sarcasmo, o peixinho realizou a viagem de retorno e instalou-se, em
definitivo, no Palácio de Coral, aguardando o tempo.
Anos depois,
apareceu devastadora seca. As águas desceram de nível, o poço esvaziou-se e a
vaidosa comunidade pereceu inteira atolada na lama...
“Como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão!”... FATO
ResponderExcluirE de fato há muitos humanos que preferem a ignorância à ousadia de acreditar nas palavras de um peixinho como esse.
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