Aquecendo a Vida

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sábado, 14 de maio de 2022

PEIXINHO VERMELHO

 

 “Como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão!” (Maquiavel).


Jesus certa vez proclamou à humanidade: “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará” (João 8,32).

Pensando nessa célebre frase, eis, a seguir, nossa breve resenha de uma lenda egípcia publicada no Livro “Libertação” de André Luiz, psicografado pelo médium Chico Xavier.  

Num jardim havia grande lago que escoava suas águas, do outro lado, através de grade muito estreita. Nesse reduto vivia toda uma comunidade de peixes, a se refestelarem em complicadas locas. Elegeram rei um dos concidadãos e ali viviam, despreocupados, entre a gula e a preguiça.

Junto deles havia um peixinho vermelho, menosprezado de todos. Não conseguia pescar a mais leve larva. Por isso, sofria e era visto em correria constante, perseguido ou atormentado de fome. O pobrezinho não dispunha de tempo para muito lazer e começou a estudar com bastante interesse.

Fez o inventário de todos os ladrilhos do poço, arrolou os buracos nele existentes, sabia onde se reunia a maior massa de lama por ocasião de aguaceiros e encontrou a grade do escoadouro. Então, refletiu consigo:

— Não será melhor pesquisar a vida e conhecer outros rumos?

Avançou então, otimista, pelo rego d’água, embriagado de esperança... Em breve, alcançou grande rio e fez inúmeros conhecimentos. Conseguiu atingir o oceano, ébrio de novidade e sedento de estudo.

Plenamente transformado em suas concepções do mundo, passou a reparar as infinitas riquezas da vida. Vivia, agora, sorridente e calmo, no Palácio de Coral, com centenas de amigos, quando, ao se referir ao seu começo laborioso, veio, a saber, que somente no mar as criaturas aquáticas dispunham de mais sólida garantia, de vez que, quando o estio se fizesse mais arrasador, as águas de outra altitude continuariam a correr para o oceano.

O peixinho pensou, pensou..., e sentindo imensa compaixão daqueles com quem convivera na infância, deliberou consagrar-se à obra de salvação deles. Não seria justo regressar e anunciar-lhe a verdade? Não hesitou.

Tornou ao rio, do rio dirigiu-se aos regatos e dos regatos se encaminhou para os canaizinhos que o conduziram ao primitivo lar. Procurou os velhos companheiros. Supôs que o seu regresso causasse surpresa e entusiasmo gerais. Ao contrário, os peixes continuavam pesados e ociosos, repimpados nos mesmos ninhos lodacentos, protegidos por flores de lótus, de onde saíam apenas para disputar larvas, moscas ou minhocas desprezíveis.

Gritou que voltara, mas não houve quem lhe prestasse atenção! Ridicularizado, procurou, então, o rei e comunicou-lhe a reveladora aventura. O soberano reuniu o povo e permitiu que o mensageiro se explicasse.

Esclareceu então que havia outro mundo glorioso e sem fim. Aquele poço era uma insignificância que podia desaparecer, de momento para outro. Lá fora, corriam regatos, rios caudalosos e o mar, onde a vida aparece cada vez mais surpreendente. Descreveu o serviço de tainhas e deu notícias do peixe-lua. Contou que vira o céu repleto de astros e que descobrira árvores gigantescas, barcos, cidades praieiras, jardins submersos, estrelas do oceano e ofereceu-se para conduzi-los ao Palácio de Coral, onde viveriam todos, prósperos e tranqüilos. Finalmente os informou de que semelhante felicidade, porém, tinha igualmente seu preço. Deveriam emagrecer convenientemente e trabalhar e estudar tanto quanto era necessário à venturosa jornada.

Assim que terminou, gargalhadas coroaram-lhe a preleção. Ninguém acreditou nele. Alguns oradores tomaram a palavra e afirmaram solene, que o peixinho vermelho delirava; aquilo era mera fantasia de cérebro demente e alguns chegaram a declarar que falavam em nome do Deus dos Peixes.

O soberano, para melhor ironizá-lo, dirigiu-se até à grade de escoamento e, tentando, de longe, a travessia, exclamou borbulhante:

“Não vês que não cabe aqui nem uma só de minhas barbatanas? Grande tolo! Vai-te daqui! Não nos perturbe o bem-estar... Nosso lago é o centro do Universo... Ninguém possui vida igual à nossa!...”.

Expulso a golpes de sarcasmo, o peixinho realizou a viagem de retorno e instalou-se, em definitivo, no Palácio de Coral, aguardando o tempo.

Anos depois, apareceu devastadora seca. As águas desceram de nível, o poço esvaziou-se e a vaidosa comunidade pereceu inteira atolada na lama...

2 comentários:

  1. “Como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão!”... FATO

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  2. E de fato há muitos humanos que preferem a ignorância à ousadia de acreditar nas palavras de um peixinho como esse.

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