Aquecendo a Vida

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sábado, 12 de março de 2022

A CEGUEIRA DE NASCÊNCIA

 

“A cegueira pode ter por causa o pecado do próprio cego” (Cairbar Schutel).


Em seu livro “Parábolas e Ensinos de Jesus”, Cairbar Schutel conta a história de uma mulher que nunca soube dar educação ao filho. Ele se tornou ladrão e assassino e foi condenado à forca. Solicitado a fazer o seu último pedido, o condenado disse ter desejo de beijar sua mãe antes de morrer.

Foi lhe dada permissão, e para tal fim fizeram a velha subir as escadas da forca, onde se achava o filho. Ele abraçou a mãe e, chegando o seu rosto ao dela, com os dentes arrancou-lhe um pedaço de carne da face, e disse:

– Você é culpada do meu suplício; vou morrer por causa da má educação que você me deu.

Eis aí um fato – diz o escritor – que resume milhares de outros fatos que se verificam no mundo: de filhos sofrerem o pecado dos pais e pais sofrerem o pecado dos filhos.

A história por si já mostra como os pais pagam pelos filhos e os filhos pelos pais. Diz um ditado popular: “tal pai, tal filho”, que se refere a essa herança prejudicial ao progresso social.

Uma questão alusiva a isso foi feita a Jesus pelos seus discípulos – em João 9,1 –, quando caminhando ele viu um cego de nascença. E indagaram dele:

– Mestre, quem pecou, este homem ou seus pais, para que nascesse cego?

Jesus respondeu:

— Nem este pecou, nem seus pais, mas é necessário que nele se manifestem as obras de Deus.

Mais do que a cura, o que importa aqui é o questionamento dos discípulos! Eles não perguntariam se “É o pecado deste homem a causa dele nascer cego” se não acreditassem numa vida anterior ao seu nascimento.

A pergunta por si mesma indica a intuição que os judeus tinham da reencarnação. Se Jesus não acreditasse nisso, ele teria visto aí uma ideia falsa e, provavelmente, teria refutado essa ideia. Ao invés disso, ele esclareceu que se um homem é cego, não significa que tenha pecado, nem seus pais, porque aquela cegueira não era um castigo, mas uma graça de Deus para revelar ao povo o Seu poder, que ali se manifestava.

Sabemos que temos dívidas do passado! A oração do “Pai Nosso” diz isso: “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos devedores”.

Mas, nem sempre sofremos por causa de nossas dívidas de outras vidas. Isso seria expiação.   Às vezes, porém, passamos por duras provas, que são testes de avaliação de desempenho do nosso processo evolutivo.

Se Jesus acreditasse que a vida é somente uma única existência terrestre para cada indivíduo, certamente teria dito: “Como este homem teria podido pecar antes de nascer?”. Mas ele se silenciou sobre isso, porque não poderia contrariar seus próprios ensinamentos de vida eterna.

Como explicar, pois, que uns nascem cegos, mudos ou surdos, idiotas, estúpidos, deficientes; enquanto outros são sadios e inteligentes?

Quando se diz que a vida é eterna se está referindo não só à vida futura, mas também à vida passada, pois a eternidade é infinita em qualquer direção. Deus é Eterno. Ele é onipresente. Quando se fala, pois, em multiplicidade de existências, está se falando de todas as existências do ser humano: as anteriores e as posteriores a esta que se vive atualmente.

Viver muitas vidas na Terra é uma realidade. O Espírito vive uma série de vidas sucessivas. Ele existe antes e depois do nascimento, tanto na espiritualidade, quanto reencarnando na Terra ou em outros planetas do Universo. Pois como disse Jesus: “Na casa do meu Pai há muitas moradas”. Esse processo reencarnatório é necessário para o aperfeiçoamento do Espírito, em sua busca da perfeição.

Quando se diz que foi o próprio cego quem pecou, o pecado é só de um: o cego.  Porém, se são os pais que pecaram, os pecadores são três: o pai, a mãe e o filho. O pai e a mãe porque não souberam educar o filho... E o filho porque aceitou e referendou o pecado.

Mas, se nenhum deles pecou, a “cegueira de nascença” era uma missão, que aquele cego tinha que cumprir para glória de Deus na Terra, ao demonstrar sua fé e ser curado por Jesus, que aproveitando a oportunidade disse abertamente: “Eu vim a este mundo para um juízo, a fim de que os que não veem vejam; e os que veem se tornem cegos” (João 9,39).

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