Arruma a sua bagagem só
com aquilo que for de uso no local de seu destino.
Um Príncipe precisava fazer uma viagem
ao país vizinho. Escolheu um caminho de trilhas, em contato com a natureza. Contratou
um Operário para os serviços necessários, pois as trilhas eram traiçoeiras e
perigosas.
O Príncipe levava roupas e calçados
novos, uma bagagem com tudo o que achava necessário, além de ouro e joias.
O Operário levava uma pequena mochila
com poucas peças de roupas velhas e um par de botas usadas.
Colocaram a bagagem no lombo dos animais,
que lhes serviam de montaria, e as mochilas nas costas. Prontos, partiram para
a viagem.
Depois de um longo dia exaustivo,
chegaram a uma estalagem. Ao Príncipe, que podia pagar, foi dado o melhor da
pousada! No entanto, o pobre Operário foi alojado num canto em péssimas
condições, para dormir quase ao relento, junto com os animais.
Enquanto o Príncipe se fartava no luxo e
dormia despreocupadamente, o Operário, mal acomodado, em prece pedia proteção e
agradecia a Deus pela vida. Dormiu pensando em angariar alguns recursos para
socorro de seus velhos pais, adoecidos, e sem trabalho.
Apesar de faltar muito para chegar ao
destino, assim eles iam, de uma estalagem a outra, o Príncipe no conforto proporcionado
pelo seu Poder e o Operário cada vez mais desgastado pelos bons préstimos ao
seu patrão.
Num lugar perigoso, ao cruzar um riacho,
sob forte temporal, eles foram surpreendidos por uma avalanche. Lutaram, mas
não resistiram ao mau tempo. No outro dia, seus corpos foram encontrados num
remanso do rio, a quilômetros de distância.
Depois de um longo tempo, agora em outra
dimensão, descobriram que tinham passado pela “morte”, mas que continuavam mais
vivos do que nunca! Estavam no mundo dos Espíritos!
Oh!... De repente viram o Céu todo
iluminado! O Príncipe, passando todos
para traz, foi logo pedindo abrigo.
− O que trazes? Quais são suas posses? –
foi lhe perguntado.
− Trago muitas riquezas em joias, mas
posso até pagar a estadia em ouro se for preciso – respondeu com a empáfia dos
nobres de sua linhagem.
− Aguarde, então, no final da fila.
Demorou!... Mas a vez do Operário chegou
e também lhe foi perguntado:
− O que trazes?
Meio sem jeito, ele respondeu:
− Trago somente a fé que tenho em Deus, que
me amparou nas noites frias, quando ao relento eu dormia.
− Quais são suas posses?
− Ah!... Eu nada tenho!... A não ser a
vontade de servir e proteger meus companheiros, os animais e meus pais!
− Muito bem! Você é rico das qualidades do
coração! Seja bem-vindo, e seu é o primeiro lugar, onde todas as venturas o
esperam. Pode entrar. Por favor, acompanhe o seu guia.
Diante disso, inconformado, o Príncipe tentou
entrar junto com o Operário. Foi impedido e ainda recebeu um recado nada
agradável.
− “Alteza”, verificamos suas obras na
Terra e nada encontramos que possa lhe garantir a abertura das portas do Céu! As
posições daqui não são compradas, mas ganhas pela prática do Bem; com o
dinheiro você pode comprar terras, palácios; mas aqui só valem as qualidades do
coração.
− Você é rico dessas qualidades?
− Não! Então, vá para o último lugar, onde
será tratado na razão de suas posses.
No Universo somos eternos aprendizes. Não viemos fazer turismo aqui, porém, adquirir
conhecimentos e amor, para manifestar as qualidades do coração na prática da
Caridade.
A situação de um Viajante Planetário, que chega ao mundo dos Espíritos depende sim
de suas posses na Terra, mas – de acordo com Pascal, 1860, em O Evangelho
Segundo o Espiritismo –, “[...] com a
diferença de que não pode pagar em ouro. Não será computado o valor de seus
bens, nem dos seus títulos, mas serão contadas as suas virtudes, e nesse
cálculo o operário talvez seja considerado mais rico que o príncipe”.
Em vão o ser humano alegará para se
salvar, que antes de deixar a Terra já pagou em dinheiro a sua entrada no Céu,
pois Deus então lhe dirá que já recebeu a sua recompensa.
Lembre-se de Jesus, quando disse:
“Porque o que quiser salvar a sua vida,
perdê-la-á; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho,
salvá-la-á. Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a
perder a sua vida?” (Marcos 8,35-36).
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