Aquecendo a Vida

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sexta-feira, 14 de agosto de 2020

O VIAJANTE PLANETÁRIO

 

Arruma a sua bagagem só com aquilo que for de uso no local de seu destino.


Um Príncipe precisava fazer uma viagem ao país vizinho. Escolheu um caminho de trilhas, em contato com a natureza. Contratou um Operário para os serviços necessários, pois as trilhas eram traiçoeiras e perigosas.

O Príncipe levava roupas e calçados novos, uma bagagem com tudo o que achava necessário, além de ouro e joias.

O Operário levava uma pequena mochila com poucas peças de roupas velhas e um par de botas usadas.

Colocaram a bagagem no lombo dos animais, que lhes serviam de montaria, e as mochilas nas costas. Prontos, partiram para a viagem.

Depois de um longo dia exaustivo, chegaram a uma estalagem. Ao Príncipe, que podia pagar, foi dado o melhor da pousada! No entanto, o pobre Operário foi alojado num canto em péssimas condições, para dormir quase ao relento, junto com os animais.

Enquanto o Príncipe se fartava no luxo e dormia despreocupadamente, o Operário, mal acomodado, em prece pedia proteção e agradecia a Deus pela vida. Dormiu pensando em angariar alguns recursos para socorro de seus velhos pais, adoecidos, e sem trabalho.

Apesar de faltar muito para chegar ao destino, assim eles iam, de uma estalagem a outra, o Príncipe no conforto proporcionado pelo seu Poder e o Operário cada vez mais desgastado pelos bons préstimos ao seu patrão.  

Num lugar perigoso, ao cruzar um riacho, sob forte temporal, eles foram surpreendidos por uma avalanche. Lutaram, mas não resistiram ao mau tempo. No outro dia, seus corpos foram encontrados num remanso do rio, a quilômetros de distância.

Depois de um longo tempo, agora em outra dimensão, descobriram que tinham passado pela “morte”, mas que continuavam mais vivos do que nunca! Estavam no mundo dos Espíritos!

Oh!... De repente viram o Céu todo iluminado!  O Príncipe, passando todos para traz, foi logo pedindo abrigo.

− O que trazes? Quais são suas posses? – foi lhe perguntado.

− Trago muitas riquezas em joias, mas posso até pagar a estadia em ouro se for preciso – respondeu com a empáfia dos nobres de sua linhagem.

− Aguarde, então, no final da fila.

Demorou!... Mas a vez do Operário chegou e também lhe foi perguntado:

− O que trazes?

Meio sem jeito, ele respondeu:

− Trago somente a fé que tenho em Deus, que me amparou nas noites frias, quando ao relento eu dormia.

− Quais são suas posses?

− Ah!... Eu nada tenho!... A não ser a vontade de servir e proteger meus companheiros, os animais e meus pais!

− Muito bem! Você é rico das qualidades do coração! Seja bem-vindo, e seu é o primeiro lugar, onde todas as venturas o esperam. Pode entrar. Por favor, acompanhe o seu guia.

Diante disso, inconformado, o Príncipe tentou entrar junto com o Operário. Foi impedido e ainda recebeu um recado nada agradável.

− “Alteza”, verificamos suas obras na Terra e nada encontramos que possa lhe garantir a abertura das portas do Céu! As posições daqui não são compradas, mas ganhas pela prática do Bem; com o dinheiro você pode comprar terras, palácios; mas aqui só valem as qualidades do coração.

− Você é rico dessas qualidades?

− Não! Então, vá para o último lugar, onde será tratado na razão de suas posses.

No Universo somos eternos aprendizes. Não viemos fazer turismo aqui, porém, adquirir conhecimentos e amor, para manifestar as qualidades do coração na prática da Caridade.

A situação de um Viajante Planetário, que chega ao mundo dos Espíritos depende sim de suas posses na Terra, mas – de acordo com Pascal, 1860, em O Evangelho Segundo o Espiritismo –, “[...] com a diferença de que não pode pagar em ouro. Não será computado o valor de seus bens, nem dos seus títulos, mas serão contadas as suas virtudes, e nesse cálculo o operário talvez seja considerado mais rico que o príncipe”.

Em vão o ser humano alegará para se salvar, que antes de deixar a Terra já pagou em dinheiro a sua entrada no Céu, pois Deus então lhe dirá que já recebeu a sua recompensa.

Lembre-se de Jesus, quando disse:

“Porque o que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á. Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida?” (Marcos 8,35-36).

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