Aquecendo a Vida

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sábado, 6 de julho de 2019

A CRUZ HOMICIDA


“Olho por olho, dente por dente” (Lei de Talião).


No livro “Há Dois Mil Anos”, de Francisco Cândido Xavier, Emmanuel relata sua experiência pessoal, quando encarnado como Públio Lentulus – o orgulhoso Senador Romano, que acompanhou “pari passu” a decisão de Pôncio Pilatos, na crucificação de Jesus.
O livro, além de trazer uma riqueza de detalhes da vida desse Senador, mostra a cena impressionante da morte na cruz de Simeão, o Apóstolo da Samaria.
Lívia, a esposa do Senador, com sua filha e Ana, sua serva, convertidas ao cristianismo, ao serem perseguidas pelo lictor de Pôncio Pilatos (Oficial incumbido de prendê-las) se refugiaram em Samaria, na casa de Simeão.
Simeão erguera, entre oliveiras, uma grande cruz, pesada e tosca, tendo em suas proximidades ampla mesa rústica, em torno da qual se assentavam os crentes, em bancos improvisados, para ouvirem a sua pregação confortadora.
Fazia dias que ali estavam. Simeão lembrava os derradeiros momentos da crucificação, quando Jesus exclamou com infinita bondade: “Perdoa-lhes, meu Pai, porque não sabem o que fazem!...”.
Nessa hora, um dos irmãos presentes exclama, para surpresa de todos:
− Lembremos que o Messias repetia sempre a necessidade da vigilância e da oração, porque os lobos rondam neste mundo, o rebanho das ovelhas!...
− Não é sem justo motivo – disse Simeão –, que o nosso irmão se refere ao ensino da vigilância e da prece! Alguma coisa fala-me ao coração que o instante do nosso testemunho está próximo...
No outro dia, após o almoço, Simeão falou às hóspedes novamente:
− Filhas, a visão de meus olhos, em nossas preces de ontem, representa uma séria advertência para o meu coração, devo resguardar-vos de qualquer perigo. E por isso vos peço acompanhar-me.
Simeão deslocou blocos de pedra duma abertura na parede empedrada de seu casebre, exclamando:
− Entremos. Ficai aqui tranquilas. Alguma coisa me diz que estamos atravessando horas decisivas. Ninguém, a não ser Deus conhece este refúgio. E, como proteção, arrancou uma pequena cruz de madeira das dobras da túnica, e entregou-a para a esposa do Senador.
Nesse momento ouviu-se um tropel de cavalos que iam se aproximando.
Despediram-se e Simeão saiu dali, reajustando as pedras com muito cuidado. Abriu as portas do casebre e lá fora estava o lictor Sulpício Tarquinius a lhe pedir informações sobre suas hóspedes.
Após tudo vasculharem e de um duro interrogatório, disse Simeão de Samaria:
Entendi que devo ignorar todas as coisas que venham a ser conhecidas para o mal de meus semelhantes.
Diante da negativa, Simeão foi preso sem a mínima resistência e submetido a enormes vexames pelos soldados.
Aos primeiros golpes de espada, exclamou Sulpício, sarcasticamente:
− Então, aonde se encontram as forças de seu Deus, que te não defende?
Diante da coragem do ancião, o lictor mandou amarrá-lo a base da cruz que se levantava a poucos metros da porta. Em seguida mandou açoitá-lo. Mas, os soldados diziam que do alto do madeiro havia uma luz que paralisava seus esforços. Encolerizado, Sulpício tomou dos açoites, brandindo-os ele mesmo no corpo da vítima. Parou e gritou:
− Confessas agora?
− O cristão... deve... morrer... com Jesus... pelo... bem... e... pela... verdade... – disse murmurando o velho samaritano.
− Morre, então, miserável!... – gritou Sulpício, e lhe enterrou a espada no peito.
O velho fechou os olhos, acariciado por um anjo, enquanto o açoite caía impiedoso sobre seus despojos!
Nisso, porém, fosse pela pouca profundidade da base da cruz, que se abalara pela violência do suplício, ou pela punição das forças poderosas do invisível, viu-se que o enorme cruzeiro tombava ao solo na vertigem de um relâmpago, abatendo o verdugo de um só golpe. Sulpício não teve tempo de dar um gemido sequer. E o sangue escorreu pelo seu crânio todo esmigalhado.
A boca do algoz defunto estava aberta e da garganta avermelhada descia uma espumarada figurando a baba repelente e ignominiosa de um monstro.
Salpício Tarquinius pagou na mesma moeda. Pois, como diz o ditado: “quem com ferro fere com ferro será ferido”.
Nesse instante assomou a porta do casebre as refugiadas de Simeão.

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