“Olho
por olho, dente por dente” (Lei
de Talião).
No livro “Há Dois Mil Anos”, de Francisco Cândido
Xavier, Emmanuel relata sua experiência pessoal, quando encarnado como Públio
Lentulus – o orgulhoso Senador Romano, que acompanhou “pari passu” a decisão de Pôncio Pilatos, na crucificação de Jesus.
O livro, além de trazer uma riqueza de detalhes da
vida desse Senador, mostra a cena impressionante da morte na cruz de Simeão, o
Apóstolo da Samaria.
Lívia, a esposa do Senador, com sua filha e Ana, sua serva,
convertidas ao cristianismo, ao serem perseguidas pelo lictor de Pôncio Pilatos
(Oficial incumbido de prendê-las) se refugiaram em Samaria, na casa de Simeão.
Simeão erguera, entre oliveiras, uma grande cruz,
pesada e tosca, tendo em suas proximidades ampla mesa rústica, em torno da qual
se assentavam os crentes, em bancos improvisados, para ouvirem a sua pregação
confortadora.
Fazia dias que ali estavam. Simeão lembrava os
derradeiros momentos da crucificação, quando Jesus exclamou com infinita
bondade: “Perdoa-lhes, meu Pai, porque
não sabem o que fazem!...”.
Nessa hora, um dos irmãos presentes exclama, para
surpresa de todos:
− Lembremos que o Messias repetia sempre a necessidade
da vigilância e da oração, porque os
lobos rondam neste mundo, o rebanho das ovelhas!...
− Não é sem justo motivo – disse Simeão –, que o nosso
irmão se refere ao ensino da vigilância e da prece! Alguma coisa fala-me ao
coração que o instante do nosso testemunho está próximo...
No outro dia, após o almoço, Simeão falou às hóspedes
novamente:
− Filhas, a visão de meus olhos, em nossas preces de
ontem, representa uma séria advertência para o meu coração, devo resguardar-vos
de qualquer perigo. E por isso vos peço acompanhar-me.
Simeão deslocou blocos de pedra duma abertura na
parede empedrada de seu casebre, exclamando:
− Entremos. Ficai aqui tranquilas. Alguma coisa me diz
que estamos atravessando horas decisivas. Ninguém, a não ser Deus conhece este
refúgio. E, como proteção, arrancou uma pequena cruz de madeira das dobras da
túnica, e entregou-a para a esposa do Senador.
Nesse momento ouviu-se um tropel de cavalos que iam se
aproximando.
Despediram-se e Simeão saiu dali, reajustando as
pedras com muito cuidado. Abriu as portas do casebre e lá fora estava o lictor
Sulpício Tarquinius a lhe pedir informações sobre suas hóspedes.
Após tudo vasculharem e de um duro interrogatório,
disse Simeão de Samaria:
− Entendi que devo ignorar todas as coisas que
venham a ser conhecidas para o mal de meus semelhantes.
Diante da negativa, Simeão foi preso sem a mínima
resistência e submetido a enormes vexames pelos soldados.
Aos primeiros golpes de espada, exclamou Sulpício,
sarcasticamente:
− Então, aonde se encontram as forças de seu Deus, que
te não defende?
Diante da coragem do ancião, o lictor mandou amarrá-lo
a base da cruz que se levantava a poucos metros da porta. Em seguida mandou
açoitá-lo. Mas, os soldados diziam que do alto do madeiro havia uma luz que
paralisava seus esforços. Encolerizado, Sulpício tomou dos açoites,
brandindo-os ele mesmo no corpo da vítima. Parou e gritou:
− Confessas agora?
− O cristão... deve... morrer... com Jesus... pelo...
bem... e... pela... verdade... – disse murmurando o velho samaritano.
− Morre, então, miserável!... – gritou Sulpício, e lhe
enterrou a espada no peito.
O velho fechou os olhos, acariciado por um anjo, enquanto
o açoite caía impiedoso sobre seus despojos!
Nisso, porém, fosse pela pouca profundidade da base da
cruz, que se abalara pela violência do suplício, ou pela punição das forças
poderosas do invisível, viu-se que o enorme cruzeiro tombava ao solo na
vertigem de um relâmpago, abatendo o verdugo de um só golpe. Sulpício não teve
tempo de dar um gemido sequer. E o sangue escorreu pelo seu crânio todo
esmigalhado.
A boca do algoz defunto estava aberta e da garganta
avermelhada descia uma espumarada figurando a baba repelente e ignominiosa de
um monstro.
Salpício Tarquinius pagou na mesma moeda. Pois, como
diz o ditado: “quem com ferro fere com
ferro será ferido”.
Nesse instante assomou a porta do casebre as refugiadas
de Simeão.
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