“Um
pouco de misericórdia torna o mundo menos frio e mais justo” (Papa Francisco)
O evangelho de Lucas (18, 9-14) registra uma parábola de
Jesus a respeito de alguns que se vangloriavam como se fossem justos, e
desprezavam os outros:
Subiram dois
homens ao templo para orar. Um era fariseu; o outro, publicano.
O fariseu, em
pé, orava no seu interior desta forma:
− Graças te
dou, ó Deus, que não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros;
nem como o publicano que está ali. − Jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos os meus lucros.
O publicano,
porém, mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos ao céu, mas
batia no peito, dizendo:
− Ó Deus, tem
piedade de mim, que sou pecador!
Digo-vos:
este voltou para casa justificado, e não o outro. Pois todo o que se exaltar
será humilhado, e quem se humilhar será exaltado.
O dízimo significa doar a décima parte (10%) de seus
lucros. E aparece 40 vezes no Antigo Testamento. Todavia, em grande parte, com
a aparência de cobrança de impostos. Pois os papéis da Religião e do Estado se
confundiam como instrumento de dominação e de exploração da credulidade humana.
Tiradentes foi enforcado porque se revoltou e lutou
contra 1/5 (20%) dos impostos. Atualmente os brasileiros pagam o dobro: 2/5, ou
seja, 40% das nossas rendas são tomadas pelo Estado todos os dias. Se
acrescentar o pagamento do dízimo, o brasileiro ficaria sem a metade de seus
rendimentos!
Por ser impraticável pelo crivo da razão, o dízimo é um
costume que está caindo em desuso. Muitas instituições preferem então as ofertas ao pagamento do dízimo. Embora
algumas, continuem esse costume com falsas promessas. Desconfiai, pois, daquele
que pelo dízimo prediz prosperidade e coisas agradáveis!
O dízimo não consta do Decálogo e muito menos dos
mandamentos do Cristo. É uma concepção humana. Então, por si só não salva
ninguém, como se viu pela parábola. Caso contrário, o fariseu estaria no céu e
o publicano no inferno.
Em Mateus 23,23, Jesus deixa bem claro isso, quando diz:
"Ai de vós, escribas e fariseus
hipócritas! Pagais o dízimo da
hortelã, do endro e do cominho e desprezais os preceitos mais importantes da
lei: a justiça, a misericórdia, a
fidelidade. Eis o que era preciso praticar em primeiro lugar, sem, contudo
deixar o restante".
Jesus coloca em primeiro lugar a prática dos preceitos
da lei divina. Portanto, não é o dízimo pago à Igreja que salva, mas a prática
da Caridade, independentemente de
credo religioso.
O dízimo, já bem antes do cristianismo, era pago no
sentido filantrópico, de solidariedade... Conforme se pode constatar no Antigo
Testamento, em Deuteronômio (26,12): "Quando
tiveres acabado de separar o dízimo de todos os teus produtos, no terceiro ano,
que é o ano do dízimo, e o tiveres distribuído ao levita, ao estrangeiro, ao
órfão e à viúva, para que tenham em tua cidade do que comer com fartura,".
No gnosticismo, o dízimo ganha uma conceituação
distinta. Pois, segundo este movimento, o Templo divino está dentro de todos
nós seres humanos, confirmado por Jesus, em João (2,19-21):
“[...]
Destruí vós este templo, e eu o reerguerei em três dias. Os judeus replicaram:
Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu hás de levantá-lo em
três dias?! Mas ele (Jesus) falava do
templo do seu corpo”.
“Vós sois deuses”, disse Jesus. Pois Deus
habita o coração de cada um. Então, pague o dízimo ao Templo sagrado, que está
dentro de si, doando dez por cento do
seu ganho e do seu tempo para as coisas que engrandecem o seu coração, que
ajudam no seu autodesenvolvimento, na sua conscientização, na sua evolução
moral, tais como: fraternidade; leitura de bons livros; investimentos em
educação; meditação e prece... Participação como voluntário em entidades:
filantrópicas; de defesa da coletividade; de inclusão social; de solidariedade;
pela paz mundial; etc.
Finalizando, o Dízimo numa ampla visão é a prática da
Caridade, é oferta para ações filantrópicas... Mas certamente não serve de barganha
com Deus; de pagamento de bênçãos e orações ou compra de privilégios. Também
não é Esmola; Transação financeira; Título de honra; nem Passe-livre para
deixar de cumprir a Lei de Deus.
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