CÉU E INFERNO
Às vezes me pego rindo de mim mesmo... Rindo do medo que me inculcaram quando criança com as falsas concepções de Céu e Inferno. Hoje, todavia, sei com plena convicção, que o Inferno, como um lugar de eternos suplícios de condenados, não existe e, tampouco, o Céu como é descrito e dramatizado pelos poetas.
Céu e Inferno, na realidade, são alegorias contidas no texto sagrado, como tantas outras, que à medida que o tempo passa vão sendo desvelados pelo progresso da ciência.
Pode um ser, infinitamente justo e bom, ter uma parcela de maldade por menor que seja? Sabemos que não! Pois é com essa convicção, que Jesus dá a entender que nosso Pai do Céu jamais daria penas eternas a seus filhos “Quem de vós dá ao filho uma pedra, quando ele pede pão?” (Mateus 7,9).
Jesus não podia destruir, de um só golpe, as crenças inveteradas daquela época, e deixou ao Tempo essa missão.
A Parapsicologia, a Física Quântica e as ciências da espiritualidade elucidam agora essas alegorias. Há conceitos modernos, relacionados com o estudo das correntes energéticas, da fluidologia, que são verdadeiras chaves para desmitificar esses grandes mistérios.
Há uma interpretação que se identifica muito com a dessa vasta ciência. É a narrada sobre um Samurai, grande e forte, conhecido pela sua índole violenta, e que foi procurar um sábio Monge em busca dessas respostas.
− Monge – disse o Samurai com desejo sincero de aprender –, ensina-me sobre o Céu e o Inferno.
O pequeno Monge, muito franzino, olhou para o bravo guerreiro e lhe disse, simulando desprezo:
− Eu não poderia ensinar-lhe coisa alguma, você está imundo. Seu mau cheiro é insuportável. Ademais, a lâmina da sua espada está enferrujada! Você é uma vergonha para a sua classe!
O Samurai ficou enfurecido. O sangue lhe subiu ao rosto e ele não conseguiu dizer nenhuma palavra, tamanha era a sua raiva. Empunhou a espada, ergueu-a sobre a cabeça... E se preparou para decapitar o Monge.
− Aí começa o Inferno! – disse-lhe o sábio mansamente.
O Samurai ficou imóvel. A sabedoria daquele pequeno homem o impressionara. Afinal, arriscou a própria vida para lhe ensinar sobre o Inferno.
O bravo guerreiro lentamente abaixou a espada e agradeceu ao Monge pelo valioso ensinamento.
O velho sábio continuou em silêncio.
Passado algum tempo o Samurai, já com a intimidade pacificada, pediu humildemente ao Monge que lhe perdoasse o gesto infeliz.
Percebendo que seu pedido era sincero o Monge lhe falou:
− Aí começa o Céu!
Tanto o Céu quanto o Inferno depende de nossas decisões. Céu e Inferno são estados de alma que nós próprios elegemos no nosso dia-a-dia.
Assim, quando alguém nos ofende, podemos usar da ira ou da tolerância. Quando caluniado ou injuriado, podemos revidar ou usar da autoconfiança. Na morte de uma pessoa querida, podemos optar pela revolta ou pela aceitação.
Do nosso livre-arbítrio dependerá o nosso estado interior. Nós criamos o Céu ou o Inferno em nosso íntimo.
Quem revida uma ofensa alimenta ainda mais a chama da discórdia.
“Um homem colérico atiça a querela; o homem paciente acalma a rixa” (Provérbios 15:18). “Resposta branda aplaca a ira, palavra ferina atiça a raiva” (Provérbios 15:1).
Entendemos que Jesus conhecia esses preceitos de Salomão. Pois disse em Matheus 5,22: “Eu, porém, digo-vos: ...quem chama ao irmão ‘idiota’, merece o fogo do inferno”. E em Matheus 18,22, mandou a gente perdoar setenta vezes sete ao irmão que pecar contra nós.
E quando mandou, em Mateus 10,7, que “Por onde andardes anunciai que o Reino dos Céus está próximo”, Jesus não prevaricou, embora os dois mil anos já passados. Porque Ele sabia que o Céu está bem pertinho, dentro de nós...
Depende somente de nós, de nossas atitudes, para descobrirmos o Céu em nosso coração.