Jesus, o Salvador, a personificação do Amor, agonizava junto a dois malfeitores, crucificados no Calvário.
Gestas – um dos malfeitores – blasfemava contra Jesus, dizendo:
− Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós!
Mas, Dimas – o outro malfeitor – o repreendeu:
− Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício? Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum.
Diante do silêncio de Gestas, Dimas acrescentou:
− Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu reino!
Jesus respondeu-lhe:
− Em verdade te digo, hoje estarás comigo no paraíso.
Era quase à hora sexta (meio-dia) e em toda a terra houve trevas até a hora nona (três da tarde). Escureceu-se o sol e o véu do templo rasgou-se pelo meio. Jesus deu então um grande brado e disse:
− Pai, nas Tuas mãos entrego o meu espírito.
E dizendo isto, expirou, conforme relata o evangelho em Lucas (23:45).
Dimas, pela afirmativa de Jesus, ficou conhecido como o “Bom Ladrão”. Pois, se nos aprofundarmos na sua história de vida vamos compreender porque razão Jesus prometeu-lhe paraíso.
Vamos constatar, por exemplo, que Dimas cuidava de um leprosário. Portanto, seu lado caridoso parece que superava os furtos, feitos muitas vezes para socorro dos leprosos, discriminados e execrados pela sociedade da época.
O livro, “O Mártir do Gólgota” de Enrique Pérez Escrich, da Editora Saraiva, registra uma cena envolvendo Dimas, Gestas e Jesus ainda menino.
Diz que os membros da Sagrada Família, quando voltavam do Egito para Nazaré, marchavam a pé pelo deserto. Três dias depois, ao por do sol, só faltava atravessar a Iduméia para entrarem na formosa terra de Judá. Procurando um refúgio para passar a noite, entraram numa caverna e encostando as cabeças nas duras pedras adormeceram.
À meia-noite, dois homens entraram na caverna. Um deles vinha do Egito e o outro de Judá. Era Dimas e Gestas. Estavam ali reunidos porque este solicitava a Dimas – o chefe dos montes de Samaria – hospitalidade para sua gente. Enquanto isso, os Sagrados Viajantes continuavam dormindo.
Num determinado momento ouviu-se um profundo suspiro vindo do fundo da caverna. Gestas sacando de uma arma observou em voz baixa: “há gente aqui!”. Acenderam uma tocha e entraram para examinar a caverna.
Dimas foi o primeiro a avistar os viajantes adormecidos, e estremeceu como se os tivesse reconhecido.
− Eis aqui um despojo que eu não esperava – disse Gestas.
− Ouve, Gestas: ao ver essa pobre gente, eu senti que o coração me palpitava como se quisesse fugir-me do peito.
− Deixa disso Dimas! O que pretendes com isso?
− Pelo que mais amas na terra eu te peço que respeites o sono desta gente.
− O que mais amo na terra é o dinheiro.
− Pois bem, não lhes toques e eu te darei vinte dracmas de prata.
− É pouco – respondeu Gestas com avareza.
− Acrescento ainda este cinturão de couro e esta lâmina de Damasco.
Gestas examinou os objetos. Vendo que ele vacilava, Dimas continuou:
− Se recusares o que te proponho, não tenho outro remédio senão disputar-lhe a presa.
− Aceito então – declarou Gestas.
Dimas entregou-lhe o que oferecera. Nesse momento ouviu-se no fundo da caverna uma voz que dizia: “Dimas e Gestas, vós morrereis comigo: um à minha direita e outro à minha esquerda!”
Os bandidos fugiram assustados da caverna. E Dimas, encaminhando-se para a Iduméia, murmurava: “É Jesus, o Filho de Maria: bem o reconheci!”.
Dimas acreditava ser Jesus o Messias anunciado pelos profetas.
A Sagrada Família chegou a Nazaré depois de mil perigos e sobressaltos.