“É uma grande glória seguir o Senhor, pois é ele quem dá vida longa”.
(Eclesiástico 23:38)
Jesus chamava atenção, na época em que viveu, porque era um simples operário, sem escolaridade formal, diferente dos sacerdotes, que se preparavam por anos de estudos para pregar a palavra de Deus.
Segundo Marcos 6:2-3, Jesus começou a ensinar na sinagoga, e muitos, ouvindo-o, admiravam-se dizendo: Donde lhe vem isso? Que sabedoria é esta que foi lhe dada e como se operam por suas mãos tão grandes milagres? Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Não vivem aqui entre nós também suas irmãs? E escandalizavam-se nele.
Jesus, cuja fala, todavia enternecia a todos, afirmava que seu ensinamento procedia do PAI (Deus).
Das tradições que correm em Nazaré sobre a vida de Jesus, há muitos contos registrados na literatura cristã e inúmeros outros que ainda são veiculados apenas pela transmissão oral, de pais para filhos, de avôs para netos, etc.
Alguns, que encerram ensinamentos dos mais edificantes, eu ouvi na adolescência, contados por algumas tias e, mais tarde, os encontrei em livros.
1º conto. Do livro “O Segredo das Bem Aventuranças”, de José Lázaro Boberg, Editora EME:
Caminhava Jesus com seus apóstolos, numa de suas numerosas andanças entre a Judéia e a Galiléia, quando o pequeno grupo divisou o cadáver putrefato de um cachorro. Os apóstolos, de maneira unânime, voltaram seus rostos, tapando as narinas, para não sentir o terrível fétido. Jesus, no entanto, agiu de modo diverso. Aproximou-se do cadáver, abaixou-se bem e disse: Que belos dentes ele tinha!
Na verdade, onde todos os apóstolos estavam vendo apenas a carcaça em putrefação do animal, o olho bom – coração sensível – de Jesus viu uma coisa boa – os belos dentes do animal.
2º conto. Do livro “O Mártir do Gólgota”, de Enrique Perez Escrich, coleção Saraiva:
Num sábado estava o menino Jesus sentado ao pé de uma cisterna, entretido a fazer uns passarinhos de barro, quando sucedeu passar por ali um velho fariseu que lhe perguntou:
− Menino, porque trabalhas em dia de sábado, faltando à lei dos teus maiores?
Jesus levantou os formosos olhos, banhando com seu celestial olhar aquele ancião e respondeu pausada e brandamente:
− Eu creio que não estou trabalhando. Voai e cantai avezinhas! A vossa região é o espaço.
E os passarinhos ergueram-se da terra batendo as asas e encheram o campo com seus cantos sonoros. O fariseu retirou-se dali, murmurando:
− Deus baixou à Terra, Deus está entre nós. Bendito seja Deus!
3º conto. Do mesmo livro do conto anterior:
Alguns aldeões que levavam numas andas (maca) de ramos de árvore um moço ferido, pararam sob a modesta latada da cabana de José. Jesus estava sozinho e aproximou-se das andas.
− Que tem esse mancebo? – perguntou aos que conduziam o enfermo.
Picou-o uma víbora e a sua morte é certa.
− Afastai-vos – tornou a dizer o Deus-Menino.
E colocando os lábios sobre a picada do venenoso réptil, deu-lhe um beijo com não pouco assombro dos presentes.
O ferido estremeceu, como se tivesse recobrado nova vida, e abrindo os cerrados olhos deu uma forte palmada nas costas de Jesus.
Este sorriu e disse-lhe:
− Tu chamas-te Judas, serás meu discípulo, hás de vender-me por trinta dinheiros e uma lança me ferirá no mesmo lugar onde acabas de bater-me.