Aquecendo a Vida

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terça-feira, 21 de agosto de 2012

CONTOS DA LITERATURA CRISTÃ

“É uma grande glória seguir o Senhor, pois é ele quem dá vida longa”.
(Eclesiástico 23:38)


Jesus chamava atenção, na época em que viveu, porque era um simples operário, sem escolaridade formal, diferente dos sacerdotes, que se preparavam por anos de estudos para pregar a palavra de Deus.
Segundo Marcos 6:2-3, Jesus começou a ensinar na sinagoga, e muitos, ouvindo-o, admiravam-se dizendo: Donde lhe vem isso? Que sabedoria é esta que foi lhe dada e como se operam por suas mãos tão grandes milagres? Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Não vivem aqui entre nós também suas irmãs? E escandalizavam-se nele.
Jesus, cuja fala, todavia enternecia a todos, afirmava que seu ensinamento procedia do PAI (Deus).
Das tradições que correm em Nazaré sobre a vida de Jesus, há muitos contos registrados na literatura cristã e inúmeros outros que ainda são veiculados apenas pela transmissão oral, de pais para filhos, de avôs para netos, etc.
Alguns, que encerram ensinamentos dos mais edificantes, eu ouvi na adolescência, contados por algumas tias e, mais tarde, os encontrei em livros.
1º conto. Do livro “O Segredo das Bem Aventuranças”, de José Lázaro Boberg, Editora EME:
Caminhava Jesus com seus apóstolos, numa de suas numerosas andanças entre a Judéia e a Galiléia, quando o pequeno grupo divisou o cadáver putrefato de um cachorro. Os apóstolos, de maneira unânime, voltaram seus rostos, tapando as narinas, para não sentir o terrível fétido. Jesus, no entanto, agiu de modo diverso. Aproximou-se do cadáver, abaixou-se bem e disse: Que belos dentes ele tinha!
Na verdade, onde todos os apóstolos estavam vendo apenas a carcaça em putrefação do animal, o olho bom – coração sensível – de Jesus viu uma coisa boa – os belos dentes do animal.
2º conto. Do livro “O Mártir do Gólgota”, de Enrique Perez Escrich, coleção Saraiva:
Num sábado estava o menino Jesus sentado ao pé de uma cisterna, entretido a fazer uns passarinhos de barro, quando sucedeu passar por ali um velho fariseu que lhe perguntou:
− Menino, porque trabalhas em dia de sábado, faltando à lei dos teus maiores?
Jesus levantou os formosos olhos, banhando com seu celestial olhar aquele ancião e respondeu pausada e brandamente:
− Eu creio que não estou trabalhando. Voai e cantai avezinhas! A vossa região é o espaço.
E os passarinhos ergueram-se da terra batendo as asas e encheram o campo com seus cantos sonoros. O fariseu retirou-se dali, murmurando:
− Deus baixou à Terra, Deus está entre nós. Bendito seja Deus!
3º conto. Do mesmo livro do conto anterior:
Alguns aldeões que levavam numas andas (maca) de ramos de árvore um moço ferido, pararam sob a modesta latada da cabana de José. Jesus estava sozinho e aproximou-se das andas.
− Que tem esse mancebo? – perguntou aos que conduziam o enfermo.
Picou-o uma víbora e a sua morte é certa.
− Afastai-vos – tornou a dizer o Deus-Menino.
E colocando os lábios sobre a picada do venenoso réptil, deu-lhe um beijo com não pouco assombro dos presentes.
O ferido estremeceu, como se tivesse recobrado nova vida, e abrindo os cerrados olhos deu uma forte palmada nas costas de Jesus.
Este sorriu e disse-lhe:
− Tu chamas-te Judas, serás meu discípulo, hás de vender-me por trinta dinheiros e uma lança me ferirá no mesmo lugar onde acabas de bater-me.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A CORAGEM

“No mar revolto do mundo, não te rendas, guarda a fé. Onda subindo mais alto é o retorno da maré”. (Deraldo Neville)


A empresa de máquinas onde “seu” Amilton dos Santos trabalhava foi contratada para demolir duas casas, que foram construídas num terreno invadido, no bairro da Palestina, em Salvador.
Nesse local, já se encontravam dois oficiais de justiça designados pelo Fórum de Salvador para cumprir o mandado de demolição das casas de Telma Sueli dos Santos Sena e Ana Célia Gomes Conceição e para garantir a reintegração de posse do terreno. Para dar tranqüilidade à operação, seis viaturas da Polícia Militar e cerca de 20 soldados armados, acompanhavam tudo para assegurar a execução da ordem judicial.
Na manhã do dia 02 de maio de 2003, “seu” Amilton – o operador de máquinas – movimenta a retro escavadeira, obrigado a demolir duas casas que abrigavam muitas pessoas, mas não consegue iniciar o trabalho, desce do trator e chorando afirma: “Eu acho que dá trabalho a todos para construir o barraquinho para ver destruído e sete filhos abandonado” (sic).
O oficial de Justiça e a polícia tentam pressioná-lo. Ele chega a receber ordem de prisão. Acuado, faz uma segunda tentativa... Mas ao apelo dos moradores ele desiste. Então é levado a uma clínica com crise de hipertensão!
Esse baiano de 53 anos, pai de família, sem muita formação escolar, de conversa simples e afável nos tratos, enfrentou a ordem dos patrões, desafiou a decisão da justiça e seguiu aquilo que acreditava ser o mais importante entre os seres humanos – a solidariedade. Ele, no comando de um trator foi contra tudo, mas a favor da vida, pois não conseguiu passar por cima das próprias crenças, de seus sentimentos, e se tornou um herói e exemplo para todos nós.
Pouco tempo depois, voltou à periferia de Salvador para encontrar os moradores da casa que ele se recusou a derrubar. Foi recebido por todos com muita emoção e disse nessa ocasião:
“Em 33 anos de profissão, nunca tinha passado uma situação como essa”.
 “Não sei como agradecer. Estou me sentindo muito feliz”, afirmou na mesma ocasião Telma Sena, moradora da casa.
O telefone da residência de seu Amilton não parou de tocar nos dias seguintes. Eram amigos e parentes querendo prestar-lhe solidariedade. A todos sempre afirmava: “Graças a Deus estou melhorando aos pouquinhos”.
Passado o susto da ameaça de prisão, a mulher e os filhos falam com orgulho de “seu” Amilton. Eles também apoiaram a sua atitude heróica.
Herói ou apenas um homem justo? Por essa reportagem, veiculada pela tevê na época, mostrou ser um ato de coragem. O tratorista colocou em risco a sua própria liberdade para ser fiel às suas idéias e aos seus sentimentos. Enfrentou a Justiça dos Homens para que prevalecesse a Perfeita Justiça Divina, que se fundamenta no Amor.
Coragem será, então, a ousadia de alguém tentar coisas boas, mas difíceis?! Acho que sim. Ela é uma força para fazer coisas diferentes do que os outros fazem, mantendo firme sua posição até para influenciar os demais. É a audácia de ser amigo, de demonstrar seus sentimentos.
Coragem é ser fiel às próprias idéias, seguir os bons impulsos, mesmo que possam parecer, para a grande maioria, inconvenientes ou tolos.
Aqueles que não crêem em nada, que não concebem um ideal, que não vêem um caminho mais adiante, que se desesperam e renegam a si mesmos ou a sua pátria ou seu Deus, que se desiludem cada vez que lhes sai mal algum plano financeiro ou político, são os derrotados da vida, porque não têm coragem de começar de novo.
Coragem é uma qualidade de caráter, que pode ser ensinada aos nossos filhos pelo nosso exemplo e também por este fato, que ficou marcado em nossa mente pela simplicidade e pela força estrondosa dos pequenos gestos, pela rebeldia singela dos heróis anônimos do cotidiano e pela sensação de que o mundo ainda tem muito espaço para a honestidade, fraternidade e para a compaixão.
“Primeiro de tudo, o coração e o bem das pessoas”, relembra “seu” Amilton, atualmente com 62 anos.