A DOR...

 A Dor magoa e machuca, mas também ensina e educa!

Levi nasceu com o dom da cura, mas ocultava o seu tesouro. Um ancião, após desvelar este seu saber lhe indaga:

— Por que oculta este seu tesouro?

— Este tesouro só me traz tristezas, ancião. Pois, muitos me veem como um lunático, um psicopata. Outros me chamam de louco, de doido. Fazem pilhéria de uma coisa sagrada e, por isso, prefiro que continue oculto.

— Você está errado, Levi! Com o que sabe poderia salvar muitas vidas ou aliviar a dor de muitos enfermos.

— Já fiz isso uma vez e o que ganhei foi incompreensão e ingratidão.

— Talvez não seja pelo que fez, mas porque fez o que os outros não poderiam fazer. Há muita diferença nisso, Levi.

— Talvez tenha razão, mas para mim é a mesma coisa.

— Não lhe agrada ver o sorriso de quem tem suas dores aliviadas? Também não lhe agrada o sorriso de uma mãe ao ver seu filho doente voltar a sorrir? Ou talvez o sorriso de um homem agradecido por poder voltar a trabalhar, após longa enfermidade? Tudo isso é bálsamo para uma alma enferma. Cure a sua, Levi! Alguém espera isso de você.

— Vou pensar no que você está dizendo, ancião.

— Não pense, observe a terra. Ela é ferida quando lhe abrimos sulcos profundos. Mas só assim a semente germina e a planta tem solidez para que não caia quando der muitos frutos. A semente que não é colocada num sulco profundo jamais germina forte. Além do mais, qualquer um pode derrubá-la.

— Sei disso tudo, ancião. Mas não ouso colocá-las em prática.

— Digo-lhe que deveria ousar. Aí verá que a sua Dor, comparada com a Dor de outros, não é nada! Saberá então que é preferível um sofrer para que muitos sorriam. Use o seu dom, Levi.

— Eu não me nego a usá-lo. Só não procuro mostrar que o possuo.

— Seu dom faz as pessoas mais humanas. É bálsamo que consola... A Dor oriunda desse dom apenas lhe enobrece!

Cabeça baixa, Levi saiu e seguiu pensando no seu dom...

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Esse texto – adaptação de algumas páginas de “O Livro da Vida”, de Rubens Saraceni – é interessante, diante da violência que assola o mundo, assusta e choca o povo do nosso país.

Nesta oficina planetária, mais do que glórias, a nossa Dor será sempre necessária para despertar nossos sentidos adormecidos e dar à alma o derradeiro traço de sua sublime e verdadeira formosura.

Por causa da Dor e do sofrimento, Bernard Shaw chegou a afirmar, que o nosso planeta é, provavelmente, o Hospício do sistema solar.

E, pensando na humanidade terrena em diferentes níveis evolutivos, nossa encarnação se compara, assim, a uma Prisão do Espírito. Pois, conforme disse Kardec, alhures: “a Terra é um misto de Escola, Presídio e Hospital”.

Ou seja: uma Escola (para reabilitação, através de provas); uma Prisão (para resgate de débitos do passado); e um Hospital (para a cura física e mental).

E não é nenhum exagero pensar assim! Vejam as tragédias do cotidiano!

Uma delas, vista pela tevê, que eu me lembro, ocorreu na primeira década deste terceiro milênio. Foi a da pequena Júlia, que muito me impressionou. A criança foi salva das ferragens de um Chevette, esmagado por um caminhão, na rodovia Fernão Dias, no município de Betim.

O PM que a salvou, emocionado, comemorou o fato com os dois braços pra cima e um grito de alegria. E chorou. Pois, a Dor e o Prazer são inseparáveis e necessárias à educação do ser na sua caminhada evolutiva.

Outras tragédias, desse porte, – que muito nos emocionam! – são as inúmeras ações divulgadas pela Polícia Militar, ao impedir casos de suicídio.

Dor não é punição divina. Pois Deus é Amor Incondicional.

“O Reino de Deus está em nós!”

Léon Denis nos ensina que suprimindo a Dor, ao mesmo tempo suprimimos o que é mais digno de admiração neste mundo, isto é, a coragem de suportá-la. Pois, são necessários os infortúnios e as angústias para dar à alma seu aveludado, sua beleza moral.

Para Léon Denis: “A vida dolorosa é um alambique onde se destilam os seres para mundos melhores”.

Talvez, é por isso que se diz: Quem não vem pelo Amor vem pela Dor!